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Riscos e benefícios de induzir sonhos lúcidos

Outros Assuntos/ Psicologia e Psicossomática

Riscos e benefícios de induzir sonhos lúcidos

Por Jocelyn Timperley, Role,BBC Future Twitter,@jloistf, 13 maio 2023

O interesse pelos sonhos lúcidos — a consciência de estar sonhando enquanto dormimos — vem aumentando na última década. E houve um pico particularmente grande nas buscas na internet sobre o assunto durante a pandemia de covid-19. É difícil induzir os sonhos lúcidos de forma confiável. Por isso, os cientistas vêm tentando descobrir quais são as melhores formas de induzir esse tipo de sonho.

Os entusiastas dos sonhos lúcidos costumam mencionar uma longa lista dos seus possíveis benefícios para justificar essa prática. Entre eles, a possibilidade de se divertir e realizar desejos pessoais de controlar alguns aspectos dos sonhos até despertar o pensamento criativo e ajudar em empreendimentos esportivos. Mas será que os sonhos lúcidos também podem trazer prejuízos? E pode haver ocasiões em que você provavelmente precise deixar de tentar induzi-los?

“Na grande mídia, todos comentam como os sonhos lúcidos vão mudar a sua vida e [como] isso é ótimo… [Mas] quase ninguém fala sobre possíveis riscos ou cuidados”, adverte a psicóloga clínica Nirit Soffer-Dudek, pesquisadora da Universidade Ben-Gurion do Neguev, em Israel. “Acho que é preciso ter mais cuidado na hora de analisar para quem é bom e para quem não é”, afirma.

A atração pelos sonhos lúcidos

Um estudo de 2020 e uma análise de pesquisas realizada em 2022 chegaram à mesma conclusão: a técnica de “indução mnemônica” é o método mais eficaz para induzir sonhos lúcidos. A técnica envolve acordar depois de cerca de cinco horas de sono e definir a intenção de ter um sonho lúcido, repetindo a seguinte frase antes de voltar a dormir: “Na próxima vez em que eu sonhar, vou me lembrar de que estou sonhando”. Costuma-se enfatizar os potenciais benefícios dos sonhos lúcidos, por uma boa razão: as pesquisas revelaram resultados fascinantes.

Em um estudo, os pesquisadores pediram às pessoas que fizessem agachamentos durante um sonho lúcido. Eles observaram um aumento dos batimentos cardíacos e, até certo ponto, da respiração entre os participantes, quase como se estivessem fazendo exercícios físicos reais. Outro estudo concluiu que praticar toques com os dedos em sonhos lúcidos pode melhorar significativamente a técnica durante as horas em que passamos acordados. E também foi sugerido que os sonhos lúcidos podem ser uma forma de ajudar as pessoas que têm pesadelos frequentes ou que sofrem de transtorno do pesadelo.

“Se conseguir ficar lúcido durante um pesadelo, você pode mudar sua reação ou fazer algo que fortaleça você em tempo real, aumentando sua capacidade de lidar com o pesadelo”, diz o pesquisador de psicologia Denholm Aspy, da Universidade de Adelaide, na Austrália. “Algumas pessoas relataram que nunca mais tiveram pesadelos.”

Um estudo de 2019 também indicou que os sonhos lúcidos podem ser usados como ajuda no tratamento dos pesadelos, mas concluiu que as pesquisas nesse campo atualmente são muito limitadas para estimar resultados terapêuticos reais. Pesquisadores também indicaram que os sonhos lúcidos talvez possam ser utilizados para o tratamento de distúrbios psicológicos graves, como a depressão clínica ou o transtorno de estresse pós-traumático (TEPT).

Os riscos

Com todas essas evidências, fica fácil entender por que a indução de sonhos lúcidos é tão atraente. Mas há claramente algumas situações nas quais é melhor evitá-los. Pessoas com certas condições de saúde mental, como esquizofrenia, psicose, distúrbio bipolar ou fase maníaca, devem evitar particularmente a indução de sonhos lúcidos, pois eles podem exacerbar essas condições, segundo Aspy. Karen Konkoly, doutoranda em psicologia na Universidade Northwest em Illinois, nos Estados Unidos, concorda que as técnicas de indução de sonhos lúcidos podem ser desestabilizadoras para pessoas com essas condições. “[Elas] meio que fazem você pensar sobre a realidade, questionar a realidade”, afirma. “Isso pode ser prejudicial para as pessoas que já enfrentam problemas quando pensam sobre o que é a realidade.”

Aumento de delírios e alucinações

No Brasil, um estudo realizado em 2016 observou a relação entre os sonhos lúcidos e sintomas psiquiátricos em pessoas com e sem esquizofrenia ou distúrbio bipolar. A pesquisa concluiu que esse tipo de sonho em uma população psicótica pode “aumentar ainda mais os delírios e alucinações, dando à realidade interna a aparência de realidade externa”. Mas, embora a maioria dos pesquisadores concorde que pessoas psicóticas não devem praticar essas técnicas, Soffer-Dudek afirma que “talvez, indivíduos que estejam em um grupo de risco para o psicoticismo [um traço de personalidade que exibe características como impulsividade, agressividade e comportamento antissocial] também não devam praticá-las”.

Em um artigo de 2018, Soffer-Dudek e sua aluna Liat Aviram se puseram a analisar possíveis alterações de diversos sintomas psicopatológicos — como depressão, ansiedade, sintomas obsessivo-compulsivos, esquizotipia (análoga mais suave dos sintomas da esquizofrenia) ou experiências de dissociação — após o uso de técnicas de sonhos lúcidos.

Soffer-Dudek tem experiência em pesquisas do sono, o que despertou sua preocupação de que a indução frequente dos sonhos lúcidos possa representar um estado de sono mais desperto, gerando possíveis distúrbios do sono. Ela também tinha receio de que algumas das técnicas usadas para induzir sonhos lúcidos pudessem ter impacto sobre a qualidade do sono. A preocupação dela era que esse distúrbio do sono pudesse gerar um aumento das psicopatologias. “Eu conhecia bem todos os milhares de estudos realizados sobre a importância do sono e da higiene do sono”, afirma Soffer-Dudek. “Intuitivamente, parecia para mim que muitas das técnicas de indução de sonhos lúcidos prejudicariam inerentemente a higiene do sono.” E a pesquisadora suspeitava que, para algumas pessoas, isso poderia ser prejudicial.

No estudo de Soffer-Dudek e Aviram, 187 estudantes de graduação em psicologia preencheram um questionário online sobre suas experiências de sonhos lúcidos e o uso de técnicas de indução de sonhos lúcidos, além de responderem sobre eventuais sintomas psicopatológicos. Pouco menos da metade dos estudantes participou de uma segunda fase do estudo, dois meses depois. Eles preencheram novamente o mesmo questionário e mantiveram um diário de sonhos por 14 dias. As pesquisadoras puderam então observar se os sonhos lúcidos relatados indicavam aumento ou redução dos sintomas psicopatológicos. Elas concluíram que cerca de um terço dos participantes empregavam técnicas de indução de sonhos lúcidos — Soffer-Dudek ressalta que esse índice provavelmente é muito menor na população em geral, já que os estudantes de psicologia costumam ter um interesse específico em temas como esse. E o estudo, de fato, encontrou efeitos negativos entre os participantes que usavam técnicas de indução de sonhos lúcidos.

Em pessoas que, na primeira fase, haviam tentado induzir sonhos lúcidos deliberadamente, dois dos sintomas — experiências dissociativas e esquizotipia — aumentaram ao longo do tempo entre as duas avaliações, segundo a pesquisadora. “Esses dois tipos de sintomas são exatamente os relacionados às fronteiras entre o sono e a vigília, ou entre o sonho e a realidade”, destaca Soffer-Dudek. “[São] coisas que são um pouco relacionadas à confusão entre o que é real e o que não é.” A pesquisadora ressalta que grande parte da questão parece estar relacionada às técnicas de sonhos lúcidos, e não aos sonhos propriamente ditos. E outra pesquisa confirma este ponto.

Em um estudo de 2021, o professor de psicologia Tadas Stumbrys, da Universidade de Vilnius, na Lituânia, realizou uma pesquisa online com 500 participantes, para observar se a frequência dos sonhos lúcidos apresentava qualquer efeito prejudicial à qualidade do sono, dissociação ou bem-estar mental. O estudo não encontrou impactos negativos sobre a qualidade do sono, nem sobre a dissociação, e também observou que os participantes que adotavam a prática relataram melhor bem-estar mental.

Prejuízo ao sono?

Mas Stumbrys concorda que pode haver efeitos negativos no sono se as pessoas praticarem técnicas de sonhos lúcidos com muita frequência. “Meu entendimento de todas as evidências científicas é que não é a experiência em si que causa efeitos prejudiciais à saúde, sejam eles mentais ou físicos”, afirma ele. “É mais no sentido de que, se algumas pessoas ficarem obcecadas pelos sonhos lúcidos e se esforçarem muito [para consegui-los], obviamente isso traz efeitos para o seu sono.”

Soffer-Dudek considera que a técnica de acordar e voltar para dormir é a ameaça mais direta a uma boa noite de sono. Acordar depois de quatro a seis horas de sono e praticar exercícios de concentração para induzir os sonhos é uma das formas mais eficazes de indução dos sonhos lúcidos. “Há muitos estudos que demonstram a importância de ter uma boa noite de sono”, diz ela. “Acordar às quatro horas da manhã, ficar acordado e voltar a dormir não é bom para você. Não há dúvidas quanto a isso.”

Outras técnicas, como monitorar a realidade (você se pergunta constantemente se está dormindo ou acordado), também são “exatamente o oposto das boas práticas de higiene do sono”, ela adverte. E podem ser especialmente problemáticas para pessoas que já têm problemas de sono. Mas outras pesquisas associaram os sonhos lúcidos a sonhos com conteúdo mais positivo e a um humor melhor ao acordar no dia seguinte. Em um estudo de 2020, os participantes relataram se sentir mais renovados depois de uma noite na qual se lembravam de ter um sonho lúcido do que em noites em que eles se lembravam de um sonho não lúcido.

“É claro que isso pode ser explicado porque a pessoa estava feliz por ter um sonho lúcido, de forma que os efeitos positivos de [ter] um bom sonho lúcido [fazem] você se sentir melhor ao longo do dia”, afirma o pesquisador Michael Schredl, do laboratório do sono do Instituto Central de Saúde Mental de Mannheim, na Alemanha, e principal autor do estudo. Mas ele também concluiu que essa sensação renovada era reduzida se os participantes utilizassem a técnica de acordar e voltar para a cama, a menos que eles pudessem dormir por mais tempo que o normal na manhã seguinte. Existe também a frustração decorrente de tentar repetidamente ter um sonho lúcido, sem conseguir.

Pessoas que não têm sucesso em suas tentativas de ter sonhos lúcidos possuem um sono mais fraco, segundo outro estudo. Mas pessoas que têm sonhos lúcidos com sucesso desfrutam da mesma qualidade de sono das noites em que não tiveram esse tipo de sonho. “Se você puder praticar a técnica e voltar a dormir rapidamente, não parece ser um problema”, diz Aspy, líder da pesquisa. E sobre o tempo que você efetivamente passa tendo sonhos lúcidos? Ele pode prejudicar o seu sono? Para Aspy, provavelmente não. “Para a pessoa comum que normalmente não tem muitos sonhos lúcidos… a maior parte provavelmente será de sonhos não lúcidos”, afirma. “Por isso, no pior dos casos, a quantidade de tempo que você passa em sonhos lúcidos é apenas um pequeno percentual dos seus sonhos e, de qualquer forma, você ainda terá muitos sonhos não lúcidos.”

Pesadelos lúcidos

Existem outros possíveis aspectos negativos dos sonhos lúcidos. Aspy destaca que algumas técnicas de indução podem aumentar a possibilidade de paralisia do sono. “Isso pode ser muito desagradável”, segundo ele. Por outro lado, Aspy ressalta que a paralisia do sono também pode ser usada para ter mais sonhos lúcidos, se você souber como fazer. “Mas algumas pessoas simplesmente querem evitá-la por completo.”

Em um estudo de 2016, pesquisadores concluíram que as experiências de sonhos lúcidos e paralisia do sono estavam ligadas em seus participantes. Mas essa correlação específica foi observada para alucinações vestíbulo-motoras intensas, que são o tipo mais positivo de paralisia do sono. Elas incluem experiências fora do corpo ou a sensação de flutuação. A paralisia do sono, mas não os sonhos lúcidos, foi associada à queda da qualidade do sono e ao aumento do estresse e da ansiedade, segundo o estudo.

Outras pesquisas relacionaram mais consequências negativas dos sonhos lúcidos às técnicas de indução. Um estudo de 2022 analisou se as postagens sobre sonhos lúcidos na plataforma online Reddit eram positivas ou negativas. A conclusão foi que “os sonhos lúcidos podem acabar com pesadelos e evitar sua recorrência, mas podem também induzir sonhos angustiantes, que causam desconforto”. Os autores concluíram que essas consequências negativas “resultam principalmente de tentativas de indução fracassadas ou de sonhos lúcidos com pouco controle do sonho”. Já a indução bem-sucedida de sonhos lúcidos com alto controle apresenta baixo risco de consequências negativas, segundo o estudo. Mas mesmo as pessoas que têm sonhos lúcidos com níveis de controle geralmente altos podem sofrer pesadelos lúcidos — sonhos apavorantes, com falta de controle sobre ele.

Em um estudo de 2018, Stumbrys concluiu que as pessoas que têm sonhos lúcidos com mais frequência e demonstram maior controle sobre o roteiro do seu sonho, com melhores técnicas de indução, apresentam mais propensão a ter pesadelos lúcidos. Mas ele também descobriu que esses pesadelos lúcidos são raros e parecem estar mais associados a sonhos lúcidos espontâneos, e não deliberadamente induzidos.

Já Schredl também estudou os pesadelos lúcidos e recomenda o uso da terapia de ensaio de imagens — aprender enquanto acordado a reescrever e alterar o pesadelo, fazendo com que ele seja menos estressante — para reduzir os pesadelos. O pesquisador também aconselha a não tentar acordar, pois, se você não conseguir, pode acabar aumentando sua ansiedade. E as pessoas que usam os sonhos lúcidos para tratar de pesadelos devem também praticar a terapia de ensaio de imagens, para evitar que tenham pesadelos lúcidos. O quadro de prós e contras dos sonhos lúcidos é complexo. Mas, em muitos casos, buscar a indução desse tipo de sonho será uma decisão pessoal.

Soffer-Dudek afirma que não é contra os sonhos lúcidos, nem contra as técnicas para ter esses sonhos. Mas ela gostaria que as pessoas ponderassem os possíveis riscos envolvidos. “Se você tiver fatores de risco, como problemas de sono, ou problemas de saúde mental que tenham alguma gravidade, como depressão ou sinais voltados à esquizofrenia, você certamente precisa estar consciente dos riscos”, diz ela. “Algumas dessas técnicas são realmente concebidas para meio que borrar os limites entre o sono e o sonho. Elas podem deixar você mais confuso, se sentindo mais fora da realidade, com uma sensação de desconexão, se você fizer isso de forma regular. E esse é um risco que as pessoas devem considerar”, conclui a pesquisadora.

Leia a versão original desta reportagem (em inglês) no site BBC Future.

https://www.bbc.com/portuguese/articles/ce5z1mgj808o

 

Violência sexual contra homens e meninos

Outros Assuntos/ Psicologia e Psicossomática

Homens e meninos também sofrem abuso sexual. Eles estão aprendendo a pedir ajuda

Instituição de acolhimento aponta que vítimas de violência sexual do sexo masculino só revelam trauma entre 20 e 30 anos após abusos sofridos na infância ou adolescência

Por Briller Pieres, Jornal El Pais, 23 MAR 2021

O silêncio dos homens foi a cápsula que o aprisionou em sua própria história, mas, por outro lado, ainda que depois de muito tempo, o ajudou a encontrar um sentido para ressignificar a experiência traumática da juventude. “Achava que eu era o único homem que tinha sido vítima de violência sexual. Só procurei ajuda com 30 e poucos anos”, conta Ângelo Fernandes, fundador da Quebrar o Silêncio, uma associação de acolhimento a adolescentes e adultos do sexo masculino que sofreram abusos sexuais. Em quatro anos de atuação, a entidade sediada em Portugal já recebeu quase 400 pedidos de ajuda de vítimas com percurso semelhante ao de seu presidente.

Ângelo tinha 10 anos quando foi molestado durante vários meses por uma pessoa próxima da família. Guardou o trauma em segredo até ir morar em Manchester, na Inglaterra, onde conheceu a Survivors Manchester, grupo que presta suporte psicológico a homens impactados pela violência sexual. “Levei tempo demais para assimilar o que aconteceu comigo. Mas fiquei pensando: ‘E se eu ainda estivesse em Lisboa? A quem recorreria?’. Então, decidi voltar e criar uma associação em Portugal”, conta. Assim como sua homóloga inglesa, a Quebrar o Silêncio oferece apoio a vítimas e familiares, além de trabalhar com a prevenção de abusos e a sensibilização para a derrubada de mitos que inviabilizam denúncias.

O principal deles é desconstruir a homofobia em torno da masculinidade. “Homens sentem muita vergonha e até sentimento de culpa em relação ao abuso sexual”, diz Ângelo. “Algo agravado por estereótipos de gênero, como as lendas de que homem que é homem não pode procurar apoio, tem de resolver seus problemas sozinhos. Muitos dos que nos procuram são heterossexuais”, comenta. “Eles têm medo de que o abuso seja associado com sua orientação sexual. Depois, em meio ao processo terapêutico, percebem que uma coisa não tem nada a ver com a outra.”

No Brasil, casos de repercussão midiática têm sido expostos a conta-gotas. Em abril do ano passado, o humorista Marcelo Adnet, 39, revelou que havia sido abusado duas vezes na infância. Na primeira, aos 7 anos, por um caseiro do sítio onde passava férias. Depois, aos 11, por um amigo mais velho de sua família. “Foram mais de 25 anos para pensar em tocar nesse assunto publicamente. São várias camadas de dor para lidar”, lembrou Adnet em entrevista ao canal GNT. “Como eu não tive culpa, é uma cicatriz na minha vida, mas hoje não tenho vergonha de falar sobre algo em que eu fui a vítima. Temos de normalizar e encorajar a denúncia. Ser abusado não é crime.” A única instituição de acolhimento específica para homens vítimas de abusos sexuais no país é a Memórias Masculinas, que inaugurou serviço de atendimento psicológico em janeiro.

Segundo o último relatório anual —referente a 2019— do Disque 100, canal de denúncias mantido pelo Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, somente 18% dos registros de violência sexual contra crianças e adolescentes brasileiros referiam-se a vítimas do sexo masculino. A subnotificação de abusos contra meninos se torna ainda maior na adolescência. Enquanto 46% dos casos atinge vítimas do sexo feminino entre 12 e 17 anos, a proporção de garotos da mesma faixa etária que denunciam é de apenas 9%. “Por causa de nossa cultura patriarcal e machista, há uma estigmatização de garotos que sofrem abuso sexual”, diz Flávio Debique, gerente de proteção infantil e incidência política da ONG Plan International Brasil, que atua na prevenção de violências contra crianças. “É como se o abuso retirasse a masculinidade do menino. Com receio de o filho ser visto como homossexual, a família prefere não denunciar.”

Após revelar sua história, Adnet recebeu a ligação de um amigo, contando ter sido vítima de abusos parecidos, e foi alvo de ataques nas redes sociais que debochavam de sua sexualidade. “Quando o menino é abusado, tem gente que diz: ‘Ah, você é baitola, tomou porque gostou’. Eu ouvi muito isso. Existe o medo da ridicularização, das ofensas homofóbicas. [Abusadores] ainda usam essa rasteira como forma de constranger a vítima”, lembrou o humorista. “O agressor fica protegido, no fim das contas. Procurei estabelecer um limite aos ataques nas redes sociais, em respeito a outras pessoas que também sofreram abuso.”

De acordo com um levantamento produzido pela Quebrar o Silêncio, casos como o de Adnet se encaixam na média de idade em que adultos do sexo masculino decidem buscar amparo psicológico para tratar dos traumas na juventude. “A maioria dos homens que nos procura sofreu abusos entre 20 e 30 anos atrás”, afirma Ângelo Fernandes. “Violência sexual na infância é uma experiência profundamente traumática para a criança. Ela pode passar a vida esperando que outras pessoas façam o mesmo. Contudo, não é uma fatura vitalícia”, adverte.

Segundo ele, com intervenção especializada, é possível minimizar os sintomas e oferecer ferramentas para a vítima lidar com o trauma. Já outro estudo da associação portuguesa estima que um em cada seis homens foi vítima de algum tipo de abuso ou assédio sexual antes dos 18 anos.

Campanhas educativas e acolhimento para vítimas

Um dos episódios mais marcantes da Survivors Manchester, inspiradora da Quebrar o Silêncio, foi a atuação no escândalo de abusos sexuais no futebol inglês. A entidade não só acolheu centenas de vítimas de uma rede de treinadores pedófilos, como também ajudou a fechar um acordo milionário com o Manchester City, que se comprometeu a pagar indenizações aos homens que foram abusados por antigos profissionais do clube. Denúncias vieram à tona em 2016, depois que o ex-lateral Andy Woodward descreveu ao The Guardian os abusos cometidos por seu ex-técnico, Barry Bennell, condenado a mais de 30 anos de prisão por molestar 52 atletas com menos de 13 anos.

“O abuso sexual de meninos é muito comum, ainda mais no futebol”, contou Woodward ao EL PAÍS. “Existem diferentes razões para que um menino ou uma menina não revele o que sofreu. É difícil para todos. Mas, no caso dos garotos, há um enorme tabu. As crianças do sexo masculino têm mais dificuldade de falar sobre isso. Muitos pensam: ‘Ninguém vai me ouvir porque eu sou um menino, devo me comportar como homem. E isso é vergonhoso para mim’. Foi algo que eu senti. O abusador exerce poder e controle. Seu impacto na vida de uma criança é aterrador.”

Devido à dor digerida em silêncio, Woodward disse ter tentado se suicidar várias vezes, uma consequência extrema, porém, não tão rara para vítimas de abusos. Em 2017, nos Estados Unidos, a morte do ex-jogador de hóquei David Gove por overdose de heroína destapou o segredo que ele guardava por mais de duas décadas. Gove foi molestado ao longo de três anos por seu primeiro treinador, Robert Richardson. Contou à mãe sobre os abusos aos 12, mas preferiram não denunciar o técnico por medo de brecar a ascensão da carreira. Em 2005, Richardson recebeu acusação por abusar de outro garoto. Acabou absolvido no processo, o que fez com que Gove entrasse em depressão.

Assim que encerrou a carreira no hóquei, ele registrou queixa contra Richardson e chegou a prestar depoimento à Justiça em 2014. Porém, o processo foi encerrado após sua morte. Richardson jamais falou sobre as denúncias, mas sua defesa alegou nos tribunais que ele é inocente. A história do ex-jogador se assemelha à de Chester Bennington, vocalista da banda Linkin Park, que, três meses depois da overdose que vitimou Gove, foi encontrado morto em sua casa no sul da Califórnia. Ele se suicidou após longos anos lutando contra o alcoolismo e a dependência química. O gatilho para o uso de drogas, como relatou em entrevistas antes de morrer, foram os abusos que sofrera aos sete anos de um amigo mais velho.

Não bastassem os entraves culturais que perpetuam o silenciamento, a quebra do tabu em torno do abuso sexual contra vítimas do sexo masculino ainda esbarra em limitações institucionais. Até 2009, por exemplo, a legislação brasileira não considerava homens como vítimas de estupro. Antes da alteração no Código Penal, que reformou o artigo 213 de “constranger mulher” para “constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a ter conjunção carnal ou a praticar ou permitir que com ele se pratique outro ato libidinoso”, o estupro de homens era enquadrado como atentado violento ao pudor, com penas menores.

Em que pese a mudança na lei, a ideia de que apenas mulheres são vítimas de abuso sexual ainda está enraizada até mesmo nos órgãos públicos. Em 2018, o Ministério do Esporte, em parceria com a Secretaria Nacional de Políticas para Mulheres (SPM), lançou uma campanha de combate à violência sexual contra as atletas, sem nenhuma menção a esportistas do sexo masculino. “O programa tem como finalidade chamar a atenção da sociedade para o assédio e a violência contra as mulheres”, afirmou no lançamento do programa o então ministro do Esporte, Leonardo Picciani. No ano anterior, uma reportagem do EL PAÍS havia registrado que pelo menos 48 garotos denunciaram assédios e abusos em escolinhas e clubes de futebol.

A falta de centros de acolhimento específicos para vítimas do sexo masculino também contribui para desencorajar denúncias. No Brasil, ocorrências de abuso e estupro geralmente são direcionadas a delegacias especializadas da mulher ou de proteção à criança e ao adolescente. Alguns Estados como o Distrito Federal têm apostado nos Centros de Especialidade para Atenção às Pessoas em Situação de Violência Sexual, Familiar e Doméstica (Cepavs). No entanto, sem estabelecer o foco no público masculino. “Uma rede acolhimento com distinção para mulheres pode afastar alguns homens. É necessário identificar esses centros como locais de apoio à vítima. Mas, além de reformular o atendimento, é preciso haver uma grande campanha educativa. Se a informação não chegar aos homens, eles nunca saberão a quem recorrer”, explica Ângelo Fernandes.

Em Portugal, a Quebrar o Silêncio conta com subsídio do Governo para prestar serviço gratuito a dezenas de vítimas e ainda colabora com associações de outros países, incluindo a Memórias Masculinas. O primeiro passo, insiste Ângelo, é atacar a cultura do silêncio. “Parece simples, mas temos de repetir o básico até que a sociedade entenda de uma vez por todas que homens e meninos também são vítimas de abuso sexual. Eles precisam saber que podem pedir ajuda.”

https://brasil.elpais.com/brasil/2021-03-23/homens-e-meninos-tambem-sofrem-abuso-sexual-eles-estao-aprendendo-a-pedir-ajuda.html

NOTA DO EDITOR: Veja o livro A MAE QUE NÃO SABIA AMAR, sobre o tema de abusos sexuais na infância

Abuso sexual pode ocorrer dentro de casa

Psicologia e Psicossomática

  • Ao contrário do que muitos especialistas pensam, o maior número de abuso infantil ocorre dentro da própria família, por parte dos pais/tios/padrastos/meio-irmãos/irmãos/babás e empregados. A mania de bater para “educar” é ainda muito forte no país, apesar de se saber que violência doméstica só contribui para o adoecimento emocional de toda a família. Pais que desenvolvem práticas de abuso físico, sexual e emocional contra seus próprios filhos ou contra crianças sob sua supervisão tem as seguintes principais características: situações estressantes como desemprego ou renda insuficiente; falta de planejamento familiar onde se gasta mais do que de ganha; deficiência emocional em lidar com situações difíceis; não sabem como lidar com crianças especiais, hiperativas, deficientes físicas de qualquer espécie; infelicidade no casamento; abandono por parte de um dos cônjuges; pessoas que perdem o controle facilmente, ficam com raiva facilmente, batem portas, quebram coisas com raiva, batem no cônjuge; solitários de qualquer espécie, especialmente aqueles que possuem uma solidão incurável, desde a infância. A sentimento de não pertencer a uma família ou de não ser amado. Pais ignorantes quanto às necessidades infantis; cuidados básicos; sobre o comportamento infantil até a adolescência; as mudanças físicas e emocionais naturais das crianças/adolescentes. Pessoas que casam para esconder suas preferências sexuais. Pais sem instrução acadêmica e presos a religiões fundamentalistas e castradoras, que decoram frases ditadas pelo líder.
  • Alguns pais, sem muita educação familiar, desenvolvem as conhecidas relações pai/filha e mãe/filho. Convencem  as crianças de que a filha é a “queridinha do papai” ou a mãe desenvolve a falsa associação de que o filho é o “queridinho só da mamãe”. Marido que chama a mulher de mãe ou a mulher que chama o marido de pai (confunde as crianças). Essas situações evoluem para relações doentias. Esse “favoritismo” é também doentio para a criança vítima dele. Ela cresce com dificuldades de fazer julgamentos corretos, tomar decisões prudentes, ter relacionamentos afetivos sadios e construir grupos de apoio emocionalmente saudáveis e sociáveis – esportes, por exemplo. Alguns pais tomam banho com seus filhos como se isso fosse um traço cultural natural na nossa sociedade e não é. Os conflitos começam quando a criança inocentemente comenta com outras crianças e que toma banho com os pais, ou que dormem com o pai ou com a mãe ou com ambos desde os três anos de idade. Elas também comentam do tamanho e da forma da genitália dos pais. É muito comum acontecer incesto nas relações pai/filha queridinha ou mãe/filho queridinho, embora a cumplicidade leve ao segredo e o segredo aos traumas nunca resolvidos que afetam a vida inteira do indivíduo em tudo o que ele fizer.
  • O pai/mãe incestuoso faz o filho/filha se sentir especial no mundo. Presentes “especiais” são constantes. Pais adotivos abusivos também agem da mesma forma. O favoritismo faz a pessoa substituir o parceiro real, vamos dizer, o pai passa a olhar para a filha como o parceiro sexual e ignora a esposa. Os lugares mais utilizados para esses abusos são cama, banheiro, o carro parado na garagem etc. Vizinhos também abusam. A mãe insiste em dar banho no menino mais de oito anos, que hoje em dia já estão bem avançados fisicamente. O pai também quer banhar a filha quando ela já tem mais de cinco anos e já pode tomar banho sozinha.  Há registro de empregados abusarem de crianças e adolescentes, especialmente se o patrão ou/e a patroa são daquele tipo que deixam tudo nas mãos dos empregados/tias, tios, cunhados etc. Na maioria dos casos há ameaças se a criança ou o adolescentes “contar a alguém” (Christianoson & Blak 1990).
  • Há vários sinais de abuso: Criança aparece machucada, com ronchas, e não quer contar o que aconteceu; criança com baixa auto-estima; encena atos sexuais com outras crianças ou com bonecas ou animais de estimação; quer tocar nas genitálias de adultos, mesmo vizinhos; desenha genitálias ou cenas de sexo o tempo todo; baixo rendimento escolar repentino; pai ou mãe que insiste em botar a criança para dormir, fica mais do que necessário no quarto da criança, acompanha demais a criança ao banheiro; a criança começa a ficar apreensiva dentro de caso; toma atitudes contrárias a um dos pais; fala de sexo fora da sua idade; quer sentar sempre no colo do pai; toca seios da mãe na frente de outras pessoas; chama adultos para tomar banho; não se socializa com outras crianças da mesma idade e se acontece tenta abusar delas.  Os casos mais profundos, a criança desenvolve o desejo por cigarro, drogas e álcool e pai/mãe diz: “comigo não tem problema, só não pode fazer isso na rua, tá ouvindo?”. Crianças abusadas também apresentam-se agressivas contra outras crianças. Não têm mais inocência, isto é, começam a se comportar como adultos, geralmente copiando o adulto preferido e abusador. Elas começam a desobedecer as regras, tanto na família quanto em público e na escola. Mesmo pais com formação univesitária abusam de crianças e adolescentes porque lhes falta a formação familiar emocional.
  • Qualquer que for a idade, a criança/adolescente vítima de abuso precisa ser submetida a atendimento terapêutico com certa frequência, assim como os pais. Geralmente há separações quando um dos cônjuges descobre que o outro abusou dos filhos e essas situações devem ser acompanhadas por um especialista para que o dano não seja ainda maior.  É importante lembrar que, em termos de idade, o homem só atinge a fase do amadurecimento e sabe o que está fazendo na vida aos 26 anos. A mulher aos 23. Tanto a educação familiar muito rigorosa quanto aquela aberta demais produz efeito contrário na formação emocional de quem estiver dentro dela.
  • O menor de 18 anos pode facilmente fazer sexo porque não tem, fisicamente, cérebro formado para saber discernir o que é que deve e o que não deve, por mais esperto que seja. Muitos jovens fogem de casa ou saem de casa quando não suportam mais os abusos ou quando começam a perceber que a sua condição é diferente da dos outros na sua idade e onde o pai não faz sexo com filha nem filho faz sexo com mãe ou adultos. Muitos até são mortos ou “desaparecem”. É muito importante que os pais tenham a consciência do que é ser pai ou mãe e se comprometam imparcialmente com a educação dos filhos, a formação da personalidade sadia já que sexo interfere fortemente na formação da personalidade se for mal conduzido ou fora do tempo ou deturpado. Não estamos falando aqui da homossexualidade.
  • Só a vítima sabe o tamanho da dor que o abuso físico, sexual e emocional provoca. A dor pode vir muito mais tarde, nas noites de solidão, insegurança e medo de enfrentar a vida. As vezes são danos irreparáveis, que pulsam dentro do coração da vítima, por mais que ela se dedique à própria cura. Para compreender o conceito de família sadia, é só olhar para as prisões e para os orfanatos e se perguntar por que essas instituições vivem lotadas. jjoacir@gmail.com 

Por José Joacir dos Santos

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