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Esquecer é uma das funções da memória

Outros Assuntos/ Psicologia e Psicossomática

Por que esquecer é uma função normal da memória – e quando se deve ficar preocupado

Por Alexander Easton, Role, The Conversation*, 24 fevereiro 2024

Esquecer-se de coisas no dia a dia pode ser um pouco irritante ou, à medida que envelhecemos, um pouco assustador. Mas é parte da função normal da memória – permitindo-nos seguir em frente ou abrir espaço para novas informações. As nossas memórias não são, na verdade, tão confiáveis quanto a gente pensa. Mas que nível de esquecimento é normal? Tudo bem confundir os nomes dos países, como o presidente dos EUA, Joe Biden, fez recentemente? Vamos analisar as evidências.

Quando nos lembramos de algo, nossos cérebros precisam aprender a memória (codificar), mantê-la segura (armazenar) e recuperá-la quando necessário (recuperar). E o esquecimento pode ocorrer em qualquer parte desse processo. Ao receber informação sensorial pela primeira vez, o cérebro não consegue processar tudo. Assim, usamos nossa atenção para filtrar as informações para que o que é importante possa ser identificado e processado.

Quando alguém se apresenta em um jantar enquanto prestamos atenção em outra coisa, não codificamos o nome. É uma falha de memória (esquecer), mas é totalmente normal e bastante comum.

Hábitos e estrutura, como sempre colocar as chaves no mesmo lugar para que não tenhamos que codificar sua localização, podem nos ajudar a contornar o problema.

Ensaiar também é importante para a memória. As memórias que mais duram são aquelas que ensaiamos e recontamos muitas vezes (embora muitas vezes adaptemos a cada releitura e, provavelmente, nos lembremos do último ensaio em vez do evento real em si).

Na década de 1880, o psicólogo alemão Hermann Ebbinghaus ensinou a um grupo de pessoas sílabas sem sentido, que elas nunca tinham ouvido antes, e analisou o quanto lembraram delas ao longo do tempo. Ele mostrou que, sem ensaio, a maior parte da nossa memória desaparece dentro de um ou dois dias. No entanto, se as pessoas ensaiassem as sílabas repetindo-as em intervalos regulares, o número de sílabas que poderiam ser lembradas por mais que apenas um dia aumentou sensivelmente.

Mas essa necessidade de ensaio pode ser outra causa do esquecimento diário. Quando vamos ao supermercado, podemos codificar onde estacionamos o carro, mas quando entramos na loja, estamos ocupados ensaiando outras coisas que precisamos lembrar (nossa lista de compras). Como resultado, podemos esquecer a localização do carro. O que nos revela outra característica do esquecimento: podemos esquecer informações específicas, mas lembrar da essência.

Quando saímos da loja e percebemos que não lembramos onde estacionamos o carro, provavelmente podemos lembrar se era à esquerda ou à direita da porta da loja, no limite do estacionamento ou mais para o centro. E, assim, em vez de ter que percorrer todo o estacionamento até encontrá-lo, podemos fazer a busca em uma área relativamente definida.

O impacto do envelhecimento

À medida que as pessoas envelhecem, elas se preocupam mais com a memória. É verdade que nosso esquecimento se torna mais pronunciado, mas isso nem é sinal de problema. Quanto mais tempo vivemos, mais experiências temos e mais temos a lembrar. Não só isso, mas as experiências têm muito em comum, o que significa que pode se tornar complicado separar esses eventos em nossa memória.

Se você só passou férias na praia na Espanha uma vez, você vai se lembrar com grande clareza. Agora, se você já foi de férias para a Espanha muitas vezes, visitou diversas cidades em momentos diferentes, lembrar se algo aconteceu na primeira vez em Barcelona ou na segunda, ou se seu irmão estava nas férias em Maiorca ou Ibiza, torna-se mais desafiador.

A sobreposição de memórias, ou interferência, atrapalha a recuperação de informação. Imagine arquivar documentos no seu computador. Ao iniciar o processo, você tem um sistema claro, em que saberá onde encontrar cada documento que guardar. Mas à medida que mais e mais documentos entram, fica difícil decidir a qual das pastas ele pertence. Você também pode começar a colocar muitos documentos em uma pasta porque todos eles estão relacionados a um mesmo item. Isso significa que, com o tempo, torna-se difícil recuperar o documento certo quando precisar dele, seja porque você não consegue saber onde o colocou, ou porque sabe onde ele deve estar, mas há muitas outras coisas para pesquisar.

Mas não esquecer também pode ser perturbador. O transtorno de estresse pós-traumático é um exemplo de uma situação em que as pessoas não conseguem esquecer. A memória é persistente, não desaparece e muitas vezes interrompe a vida diária. Pode haver experiências semelhantes com memórias persistentes no luto ou em casos de depressão, condições que podem dificultar o esquecimento de informações negativas, quando esquecer seria extremamente útil.

Esquecer não necessariamente afeta a tomada de decisão

Esquecer-se de coisas é comum, e à medida que envelhecemos isso se torna mais comum. Mas esquecer nomes ou datas, como Biden fez, não necessariamente prejudica a tomada de decisões. As pessoas mais velhas podem ter conhecimento profundo e boa intuição, o que pode ajudar a neutralizar tais lapsos de memória. Claro que, em alguns casos, esquecimentos podem ser sinal de um problema maior, e conversar com um médico pode ser necessário. Fazer as mesmas perguntas sempre é um sinal de que esquecer é mais do que apenas um problema de distração quando tentava codificar a informação.

Da mesma forma, esquecer como circular em ambientes muito familiares é um sinal de que você está com dificuldade para usar pistas do ambiente para lembrar de como se locomover. E embora esquecer o nome de alguém no jantar seja normal, esquecer como usar talheres não é. Em última análise, esquecer não é algo a se temer – em nós ou nos outros. Costuma ser um mau sinal quando em caso extremos de esquecimento.

 

* Alexander Easton é professor de psicologia da Universidade de Durham. **Este artigo foi publicado no The Conversation e reproduzido aqui sob a licença Creative Commons. Clique aqui para ler a versão original em inglês

https://www.bbc.com/portuguese/articles/c72gx0x7zl1o

 

Envelhecimento e seus desafios

Outros Assuntos/ Psicologia e Psicossomática

Os desafios de lidar com o envelhecimento dos pais – e como evitar conflitos

Por Vinícius Lemos, Role, BBC News Brasil em São Paulo, 24 fevereiro 2024, 07:16 -03

Uma dura fase marcada por conflitos e dificuldades. É assim que especialistas resumem a forma como o envelhecimento dos pais é encarado diversas vezes, porque muitos filhos não estão preparados para lidar com as exigências desse período. À medida que a idade avança, uma pessoa tende a precisar de cada vez mais apoio, seja em atividades simples do dia a dia ou mesmo uma ajuda financeira – e isso pode cobrar um preço de quem fica responsável por esses cuidados, como apontam especialistas.

“Em alguns casos, esses filhos podem experimentar níveis significativos de estresse e sobrecarga ao lidar com as demandas do envelhecimento dos pais, especialmente quando há questões de saúde ou limitações funcionais”, diz a psicóloga Deusivania Falcão, professora de Psicogerontologia – área da psicologia que estuda o envelhecimento – da Universidade de São Paulo (USP).

Há, inclusive, um nome para definir esse senso de obrigação dos filhos em apoiar pais mais velhos: responsabilidade filial.

“É uma obrigação baseada em um padrão cultural, relacionado à percepção de que esse é um comportamento socialmente responsável em resposta ao envelhecimento e a dependência dos pais”, explica Falcão.

Esse tipo de situação e a discussão sobre como encarar estes desafios são cada vez mais frequentes com aumento de idosos no Brasil. O número de pessoas com mais de 60 anos passou de 20,5 milhões no Censo de 2010 para 32,1 milhões no mesmo levantamento em 2022 – um crescimento de 56% em pouco mais de uma década. E as estimativas apontam que a população de idosos deve se tornar ainda maior ao longo das próximas décadas.

Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) mostram a tendência de que o brasileiro deve viver cada vez mais: a expectativa de vida, que era de 69,8 anos no início dos anos 2000, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), hoje é de 75,5 anos. Isso não só aumenta o período em que uma pessoa pode precisar de auxílio, mas também torna mais comum que os filhos acompanhem diferentes fases do envelhecimento dos pais.

Um ponto importante nesse período é a forma como filhos encaram o envelhecimento dos pais – e, como em tantas outras fases da vida, não há uma cartilha universal a seguir. Essa experiência, dizem especialistas, costuma ser influenciada por padrões familiares do passado e pela forma como uma pessoa foi criada, além de aspectos culturais, históricos, sociais e religiosos de uma família. “Há vários modelos de envelhecimento e de velhice. Cada indivíduo envelhece de maneira diferenciada, na singularidade de suas condições genéticas, ambientais, familiares, sociais, educacionais, econômicas, históricas e culturais”, diz Falcão. “Isso tudo depende do tipo de sistema desenvolvido (pela família) ao longo dos anos.”

Pais teimosos x filhos mandões

Um dos principais desafios e motivos de atrito está nos papéis que pais e filhos assumem nessa fase da vida, apontam especialistas. De um lado, os filhos podem enxergar uma pessoa fragilizada, adoecida e que precisa de cuidados e limitações e tentam proteger seus pais e fazer com que não se exponham a riscos. Do outro, há uma pessoa que não quer perder sua autonomia e que pode até perceber que precisa de cuidados, mas tem dificuldade de aceitar isso, afirma a geriatra Fernanda Andrade. “Na imensa maioria das vezes, há uma grande diferença entre a visão dos filhos e dos pais. Os filhos não costumam lidar bem com as escolhas dos pais nesse período”, afirma Andrade.

Um dos comentários mais recorrentes que a médica ouve dos filhos é que seus pais são “teimosos” por não seguirem à risca como os filhos acreditam que eles devem agir.

“É angustiante assistir ao envelhecimento – e, muitas vezes, ao adoecimento – de uma pessoa que se ama e não conseguir controlar nada disso.” Mas, por trás dessa “teimosia”, apontam especialistas, estão características que podem ser atribuídas à idade avançada. Entre elas, o sentimento de solidão, a perda de sentido da vida, a saudade de amigos ou parentes que já faleceram e o medo da morte. Além disso, o temor de depender dos outros, ainda que sejam os próprios filhos, causa preocupação em muitos idosos e faz com que sejam resistentes a cuidados.

“Imagina passar 50 anos da sua vida totalmente independente e começar a precisar de alguém para ir ao mercado para você, te ajudar a vestir uma roupa ou realizar sua higiene íntima?”, diz Andrade.

Para não perder a autonomia, diz Fernanda, muitos idosos não querem parar de dirigir, não aceitam ir ao médico ou não querem abandonar outras atividades que costumavam fazer sozinhos. Aí é que podem surgir conflitos na relação com os filhos, caso não haja uma comunicação aberta na família sobre as expectativas, desejos e necessidades dos dois lados, pontuam os especialistas.

Muitas vezes, é preciso entender que se trata de uma fase de constante adaptação às demandas que surgem com o passar dos anos. Por isso, é fundamental perceber que as necessidades dos pais podem mudar ao longo do tempo.

Uma das principais dificuldades na relação entre pais e filhos nessa fase é causada por falhas de comunicação em razão do conflito geracional, diz Renato Veras, que é professor da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj) e diretor do projeto Universidade Aberta da Terceira Idade (UnATI). “O ideal é que os pais conversem muito com os filhos e mostrem as diferenças geracionais”, afirma o médico. “Esse diálogo é importante, mas é difícil, porque muitos pais não conseguem puxar essa conversa e muitos filhos se consideram senhores da verdade, o que dificulta muito essa situação.”

Inversão de papéis?

Nos casos em que os idosos preservam sua autonomia, é importante que as decisões e escolhas dos pais sejam respeitadas pelos filhos, dizem os especialistas. “Incentivar a tomada de decisões (dos pais) sempre que possível e respeitar suas escolhas contribui para uma relação mais positiva”, afirma Falcão.

A dificuldade em respeitar a autonomia dos pais pode ocorrer por estereótipos relacionados à velhice e pelo etarismo (ou idadismo), o preconceito com pessoas mais velhas. Mas, enquanto muitos idosos conseguem permanecer independentes, outros precisam de auxílio constante.

Em diversos cenários, principalmente quando se fala em cuidados intensos, muitas mulheres acabam sobrecarregadas. Um levantamento divulgado em 2023 pela Fundação Seade, um sistema de análise de dados, mostrou que 90% dos cuidadores de pessoas com demência em São Paulo são do sexo feminino.

O número ilustra uma realidade que pesquisadores sobre o envelhecimento apontam que ocorre em todo o país. “Comumente, as filhas que assumem o cuidado de pais idosos com doença de Alzheimer, por exemplo, com a evolução da demência, percebem uma inversão hierárquica de papéis, em que elas passam a ter mais poder e controle em relação a eles, levando-as muitas vezes a terem a sensação de que passaram a ser mãe deles”, diz Falcão.

Mas a geriatra Fernanda Andrade diz que o envelhecimento, embora implique que pais e filhos assumirão novos papeis, não significa que estes papeis serão invertidos e que os pais passam a ser os filhos da relação. “Os pais nunca se tornam filhos. Filhos estão aprendendo, filhos estão sendo preparados para a vida adulta e são uma tela em branco para os pais colorirem da forma que julgam melhor”, diz. “Pessoas idosas são telas rabiscadas, cheias de experiências e valores prévios já muito bem estabelecidos.”

Cuidar de um pai ou mãe idosa ou de um filho pequeno são situações bem diferentes, diz Andrade. “Um pai com sequela de AVC ou uma mãe com Alzheimer não está no script da vida de ninguém. Isso vira a vida dos filhos de cabeça para baixo, afeta o trabalho e aumenta os custos familiares, sem planejamento algum”, pontua. “Coletivamente falando, são poucas as pessoas compreensivas com os filhos cuidadores. Ai de você caso falte no emprego porque a sua mãe teve febre!”, acrescenta Andrade.

Envelhecimento saudável

De forma geral, é difícil prever quais serão exatamente os desafios enfrentados nesta fase da vida. “A realidade do envelhecimento no Brasil é bem heterogênea”, diz a geriatra Fernanda Andrade. “Envelhecer bem não é só uma questão genética, mas também ambiental e está relacionada ao acesso a melhores cuidados de saúde.”

Os especialistas defendem que pessoas idosas não devem ser vistas como alguém que está necessariamente doente ou que está perto de morrer.

Possíveis problemas de saúde física ou mental, fragilidade e diminuição da capacidade funcional não devem ser um impedimento para uma velhice confortável, dentro do possível que a saúde permitir. Em qualquer cenário, que varia conforme os cuidados que os pais precisarem, é importante que os filhos sempre tentem ser uma forma de apoio.

“Antigamente a pessoa envelhecia, adoecia e morria. Ser velho era quase uma sentença de dependência física ou cognitiva”, pontua Andrade. “Hoje, temos uma gama enorme de pessoas envelhecendo e bem. Ativas, trabalhando, saudáveis. Mas isso ainda é recente. Leva-se tempo para mudar uma cultura.”

Cada situação e condição de saúde dos pais vai exigir um tipo de apoio diferente.

Uma das principais formas com que filhos podem apoiar seus pais nesse período, segundo especialistas, é incentivar que uma pessoa idosa cuide das doenças crônicas que surgem nessa idade para que tenham boa qualidade de vida. Ao mesmo tempo, é importante que os filhos incentivem os pais a se exercitarem fisicamente e mentalmente – por meio de leituras e diferentes tipos de aprendizados, como o de um novo idioma. “É importante reconhecer e apoiar o bem-estar emocional dos pais. Isso envolve estar atento a sinais de depressão, solidão ou ansiedade, e buscar ajuda profissional quando necessário”, diz Falcão.

Os benefícios de se planejar e de ter uma relação próxima

Uma forma de tornar esse período da vida mais suave é se planejar para o envelhecimento, apontam as especialistas ouvidas pela reportagem.

“Aqueles filhos que participam de discussões sobre planejamento antecipado, como cuidados de saúde e decisões financeiras, tendem a lidar de maneira mais eficaz com o envelhecimento dos pais”, afirma Falcão. Mas esse planejamento, dizem as especialistas, ainda é pouco debatido nas famílias, que acabam enfrentando cada problema conforme eles vão surgindo. “A educação para o envelhecimento é vital, pois nos capacita a enfrentar as transições com compreensão e empatia, o que favorece a qualidade de vida e a autonomia”, declara Falcão. Ao mesmo tempo, nem tudo é dificuldade quando se fala em acompanhar o envelhecimento dos pais. Há benefícios ao tentar estar perto deles durante esse período.

“Conviver com os pais mais velhos e cuidar deles permite que a gente reveja laços e acerte pendências”, diz Andrade. “Encarar o declínio e a finitude da vida de alguém também nos faz refletir sobre a nossa própria vida, valores e sobre como queremos ser cuidados na nossa velhice.”

O bom relacionamento com os filhos costuma ser fundamental para que os pais encarem os momentos mais difíceis do envelhecimento. Isso também pode ajudar os próprios filhos. “A dinâmica familiar positiva, com expressões de afeto e envolvimento do idoso nas atividades familiares, contribui para melhorar o relacionamento entre pais e filhos”, afirma Falcão.

Pesquisas sugerem que os vínculos positivos com os pais idosos são também uma fonte de apoio para os filhos cuidadores, acrescenta a especialista. “É importante destacar que, embora os desafios sejam comuns, o envelhecimento também pode trazer oportunidades de crescimento pessoal, novos aprendizados e formas de se envolver com a vida”, diz Falcão.

“Adotar uma abordagem positiva e proativa para enfrentar esses desafios pode contribuir para um envelhecimento mais saudável e satisfatório.”

Texto original publicado em:

https://www.bbc.com/portuguese/articles/c842z9en455o

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