Prazer entre Homens, do jornalista e psicoterapeuta José Joacir dos Santos traz extensiva pesquisa sobre a repressão masculina orquestrada pelo cristianismo desde dois mil anos. Penetra nas sociedades mais ativas ao longo dos séculos e identifica a repetição dessa repressão na sociedade brasileira atual. Essa repressão desembarcou no Brasil com os primeiros colonizadores portugueses, que traziam em seus barcos uma longa cruz. Acreditavam estar defendendo ou evangelizando, mas, a história mostra o contrário. Duvida-se muito que eles não sabiam que estavam usando a religião para dominar política e militarmente os povos nativos de todas as Américas, incluindo o Brasil, a qualquer custo. Antes da chegada daqueles colonizadores, a escravidão branca já era uma prática milenar entre os povos europeus e asiáticos. Crianças pobres das periferias eram sequestradas, castradas e treinadas militarmente para defender territórios dos faraós, no Egito, assim como família da nobreza na Pérsia e outras civilizações. A prática da castração também, desde a China ao Egito. A homossexualidade (ou seja, o prazer entre homens) era comum entre as principais civilizações da história humana e por isso mesmo passou a ser o alvo e a arma mais comum utilizados pelas elites religiosas organizadas pelo Vaticano. Hoje em dia os evangélicos copiam o que de pior fez a Igreja Católica que veio também nos barcos portugueses. A famigerada “cura gay” patrocinada por evangélicos em todas as Américas está bem documentada. É um livro para abrir os olhos e as mentes de quem colabora com todas as atrocidades, desde o racismo à homofobia. Compre na amazon.com.br
Sexualidade masculina. Adeus aos mitos
Por Rita Abundancia, Jornal El Pais, publicado em 29/09/2017
Homens sem desejo: adeus ao mito do macho sempre a postos
A falta de desejo já não é um problema majoritariamente feminino. Cada vez mais homens falam sobre isso
Quando o mal denominado Viagra feminino – a pílula que supostamente aumenta o desejo sexual das mulheres – foi inventado, parecia que a indústria farmacêutica já tinha cumprido com suas tarefas no que diz respeito à sexualidade e que os nossos problemas nessa área tinham desaparecido para sempre. Pois até pouco tempo atrás os grandes problemas sexuais se limitam a duas questões de enorme importância. Primeira: no caso deles, que estavam sempre prontos para o ato, chegava uma idade em que ainda queriam fazê-lo, mas não conseguiam mais. E eis que alguém inventou o Viagra, a fim de levantar colunas, vigas e estandartes e tornar quase possível que até mesmo a múmia de Tutancâmon apresentasse uma ereção.
Mas continuava existindo um outro obstáculo, no campo feminino, em que o problema não estava tanto no desempenho do ato, mas sim na ausência de vontade de praticá-lo. As mulheres são – talvez devêssemos dizer que eram – difíceis de convencer, acometidas frequentemente de enxaquecas ou outros males, excessivamente sensíveis e pouco aptas a aguentar o estresse. Características que pesavam na sua vida sexual. E se inventássemos uma fórmula que as fizesse terem mais desejo?, perguntaram-se os laboratórios, esfregando as mãos. Pois bem: após décadas de experimentações e testes, chegou-se ao “milagre” do Viagra feminino.
Pela primeira vez na história da humanidade, eles sempre estavam a postos e elas tinham mais vontade. Tínhamos encontrado a fórmula da felicidade, nada mais havia para impedir que o mundo revivesse seus episódios de dois losangos, como Sodoma e Gomorra. No entanto, como se fosse uma brincadeira do destino, eis que surge um problema inesperado. O único elemento que poderia alterar esse quebra-cabeças perfeito falhou, e os homens começaram a deixar de sentir vontade.
De repente, o macho que passou séculos se queixando da pouca disponibilidade erótica feminina e que teve de lançar mão de sua imaginação para construir histórias excitantes e credíveis para contar nas mesas de bar perdeu o fôlego e a testosterona; e, hoje em dia, muitos preferem ciscar nas redes sociais ou se dedicar à enologia, mais do que se enfiar debaixo dos lençóis, ao mesmo tempo em que seus parceiros – sejam eles homo ou hétero – assistem, perplexos, a esse novo espetáculo.
O transtorno do desejo sexual inibido entre os homens ainda não é tão frequente como nas mulheres, mas vem crescendo pouco a pouco. Sobretudo entre os mais jovens. Há poucas estatísticas confiáveis sobre o tema, mas Toni Martín, médico, sexólogo, membro da Sociedade Catalã de Sexologia e da Seção Colegial de Sexologia do Colégio de Médicos de Barcelona, calcula que um em cada 10 homens vive essa situação, ante 30% no caso das mulheres.
Segundo a sexóloga e ginecologista Francisca Molero, diretora do Institut Clinic de Sexologia de Barcelona, membro do Institut Iberoamericano de Sexologia e presidenta da Federação Espanhola de Sociedades de Sexologia, “a primeira coisa a verificar no caso de um paciente com desejo sexual inibido e que tenha mais de 40 anos é se ele apresenta o chamado déficit de testosterona do homem adulto, que inclui uma série de sintomas, como: pouco desejo, cansaço, fadiga, perda de massa muscular ou queda de cabelo. Há também doenças que diminuem a libido, pois alteram a prolactina, um hormônio cujo aumento é antagônico com a liberação de hormônios sexuais. Algumas dessas patologias são o hipo ou hipertireoidismo, a diabetes e a hipertensão arterial. Existem também medicamentos que reduzem fortemente o impulso sexual, como os antidepressivos, ansiolíticos e os que se tem pressão alta”.
“É preciso descartar também, no caso dos mais jovens, se eles têm algum tipo de disfunção sexual, como dificuldade de ereção, ejaculação precoce ou retardada ou problemas para atingir o orgasmo”, observa Toni Martín, “porque é muito comum que os que apresentam esse tipo de problema, ao ver que sua habilidade na cama está afetada, percam o interesse pelo sexo. Mas não se deve esquecer a dimensão social de tudo isto. Antigamente ejacular precocemente era visto como um indicador positivo da potência e força do homem. Hoje é o oposto. Alguns até criam problemas onde não há, por causa da pornografia, onde parece normal que o homem aguente horas e horas”,
Mulheres fizeram sua revolução sexual. Os homens têm a sua por fazer
À margem dos problemas decorrentes da idade ou de apresentar determinadas patologias, os sexólogos veem em suas consultas que a falta de desejo deixou de ser um transtorno tipicamente feminino. “Ultimamente os homens se atrevem mais a consultar sobre essas questões, que antes eram tabu, por isso também são registrados mais casos”, afirma Martín, “em parte porque suas parceiras lhes pedem que o façam”.
Carlos, 39 anos (Madri), é um desses casos. E se a história sexual do gênero feminino tem sido um compêndio de machismo, desinformação, falta de interesse e desprezo ao prazer da mulher, na do homem tampouco faltam sombras, porque manter-se no trono e herdar, automaticamente, a coroa nem sempre é do agrado de todos.
“A sociedade está acostumada a que as mulheres passem por períodos em que o sexo não lhes interessa. A menstruação, a gravidez, a amamentação são alguns desses momentos (embora nem todas as mulheres percam os desejos nessas situações) em que as damas estão desculpadas. Os homens, porém, não têm nenhum. A fábrica tem de produzir intermitentemente. A sociedade, os amigos, até a parceira não admitem que o homem tenha fases nas quais não tenha desejo. E se isso acontece, é porque está doente e tem de ir correndo ao médico”, diz este madrilenho. “Eu tive um desses momentos e, por mais que explicasse à minha companheira, ela não entendia. Começou a pensar que eu tinha uma amante ou que não gostava mais dela, que já não achava atraente. Lembro que até me perguntou o que eu acharia se ela fizesse uma cirurgia para aumentar os seios. Ela sempre os teve pequenos, mas nunca me importei com isso. Outra coisa que não aceitava era que eu visse pornô, algo que eu fazia numa tentativa de me excitar. Encarava como uma pseudoinfidelidade. Como você pode ter vontade de ver isso e não de dormir comigo?”, me perguntava.
Segundo Toni Martín, “a mulher fez sua revolução sexual, mas o homem ainda tem a sua por fazer. E se as fêmeas tiveram que ganhar mais protagonismo, ser mais ativas e exigentes, e tomar consciência de seu próprio corpo e poder, os machos têm de fazer justo o contrário: descer do pedestal, deixar o trono, humanizar-se. Romper com o mito de que tem de estar a postos, estar sempre disposto e ser capaz de proporcionar prazer à mulher a todo o momento. A própria ideia dessa tarefa já é estressante e esgota, mas este trabalho também se tornou mais complicado desde que elas ganharam mais interesse pelo sexo e o prazer”. As exigências aumentam e a testosterona baixa.
Outra variante do homem sem desejo é daquele que, ao mesmo tempo que recusa ter relações com sua parceira ou outras pessoas, continua se masturbando. Algo que muitas mulheres, especialistas na arte de levar tudo para o lado pessoal, desaprovam vivamente. “Aqui não estaríamos diante de um caso de falta de desenho, mas se trata de outra situação”, afirma Toni Martín. “O homem entra no sexo por dois estímulos: o visual e o genital. São duas vias muito potentes, mas ao mesmo tempo muito frágeis e que podem erodir-se com a conveniência ou a rotina. Neste caso, os sexólogos aconselham uma terapia de sensualidade corporal, adiar o coito por algum tempo para ir recuperando a excitação”.
Outra explicação para esta atitude é a que Molero propõe, que se assemelha à da omelete francesa, esse recurso rápido e fácil de que a gente lança mão quando chega em casa esfomeado e não tem vontade de preparar um peito de frango empanado. “A pressão para estar pronto ou de ser o amante perfeito faz com que muitos homens, quando têm desejo e estão muito cansados, optem pela via da masturbação, porque é algo rápido, simples e isento de qualquer tipo de avaliação por parte de outros”, afirma esta especialista.
“Uma das descobertas mais interessantes da sexologia das últimas décadas é que a sequência desejo-excitação-orgasmo nem sempre segue essa ordem”, diz Martín. “Às vezes pode vir primeiro a excitação e, através dela, se chega ao desejo. É algo importante a levar em conta, porque não devemos nos limitar a ter relações somente quando ardemos de desejo. E, por outro lado, o filtro amoroso ou sexual ainda não foi inventado.”.
O estresse, o medo de perder o trabalho – no caso de que se tenha um – ou de não encontrar outro – se a pessoa estiver desempregada – é outro dos inibidores do desejo. Ao mesmo tempo, acredita-se que os disruptores endócrinos (substâncias que se unem a um receptor hormonal, alterando o efeito normal do hormônio), presentes na poluição e nos alimentos, baixam os níveis de testosterona – o hormônio do desejo – em ambos os sexos. Eu diria que a Terra se defende com sofisticados métodos dessa espécie tão danosa, intolerante e incapaz do diálogo, que é a raça humana.