Centro Oriental Kuan Yin

  • Início
  • QUEM SOMOS – WHO WE ARE
  • Contato
<

Sexo: benefícios físicos e psicológicos de fazer sexo com frequência

Outros Assuntos/ Psicologia e Psicossomática


Por Joaquín Mateu Mollá, Role, The Conversation* 7 fevereiro 2024

O sexo é uma experiência prazerosa, praticado sozinho ou com outra pessoa, especialmente quando há uma atração profunda pelo outro ou um vínculo significativo. Também pode ser uma forma extraordinária de comunicação, ajudando a transmitir sentimentos complexos e fortalecer a relação. Por se tratar de uma dimensão fundamental da vida, muito tem sido escrito sobre como e quando dedicar tempo à atividade sexual. Não há, no entanto, uma resposta única: depende quase sempre de cada um, do parceiro e do contexto. A única verdade é que requer consenso entre as partes, que devem se sentir confortáveis e satisfeitas em suas expectativas mútuas. Sabendo que cada pessoa é única em suas necessidades e valores, detalharemos a seguir os benefícios que o sexo pode trazer quando praticado com a frequência que cada indivíduo considerar desejável.

Melhora o humor

Durante a atividade sexual, o cérebro produz endorfinas, que são as substâncias que geram excitação, satisfação e bem-estar. Elas também estão relacionadas à euforia e à calma antes e depois do orgasmo e estão relacionadas à resposta de recompensa que experimentamos ao sentir diferentes formas de prazer. Apesar de nos fazer sentir bem, não se pode dizer que o sexo possa servir como tratamento antidepressivo. Pode, sim, nos proporcionar momentos positivos que, somados a outros, potencializam emoções agradáveis. Mas sintomas depressivos exigem abordagens terapêuticas muito mais complexas e, muitas vezes, multidisciplinares. Por último, o sexo facilita o sono, o que impacta positivamente na insônia que frequentemente acompanha problemas de saúde mental.

Alivia o estresse

A experiência subjetiva de estresse disfuncional (ou distress) surge ao nos sentirmos sobrecarregados pelas exigências do dia a dia e atrapalha tanto o humor quanto o desejo sexual. Quando convivemos por muito tempo com situações que nos sobrecarregam, a frequência com que desejamos praticar sexo cai, o que às vezes pode se traduzir em menor satisfação com o parceiro. Isso pode ser devido aos níveis de cortisol, um hormônio necessário para lidar com as demandas da vida, mas prejudicial quando sua concentração no organismo aumenta muito ou por muito tempo. Nesse sentido, o sexo pode nos ajudar a reduzir o estresse associado à sobrecarga diária, embora paradoxalmente o estresse reduza o desejo sexual. Um fato curioso é que os casais mais felizes tendem a procurar relações sexuais nos dias seguintes a um dia estressante. Eles são também os que se beneficiam em maior medida dos efeitos positivos do sexo.

Fortalece o sistema imunológico

A prática regular de atividade sexual fortalece as nossas defesas fisiológicas contra vírus, bactérias e outros patógenos. Há, inclusive, estudos que sugerem que ter relações sexuais três vezes por mês pode ajudar a nos proteger do coronavírus. A descoberta estende-se, é claro, a outras doenças infecciosas. O benefício sobre o sistema imunológico independe da idade e do tipo de atividade sexual, ou seja, qualquer pessoa pode obtê-lo em diferentes momentos da vida. Em resumo, as evidências sugerem que, à medida que aumentamos a frequência das relações sexuais, nosso sistema imunológico torna-se mais resistente às ameaças.

Reduz a pressão arterial e a dor

A atividade sexual ajuda o sistema cardiovascular. É sabido que o sexo em casal aumenta a pressão sistólica e diastólica, que são intensificadas durante o orgasmo e atenuadas logo após. Nas pessoas jovens, um único encontro sexual traduz-se em quase seis equivalentes metabólicos, ou seja, um consumo energético seis vezes maior do que o que teria em repouso. Outro estudo recente sugere que a manutenção da atividade sexual durante a velhice reduz a ocorrência de problemas cardiovasculares, impactando positivamente nos fatores de risco conhecidos. Também pode contribuir para aliviar a dor.

Fortalece a relação e a conexão emocional

O sexo é importante para construir e manter o vínculo entre um casal por ser um momento para compartilhar uma experiência gratificante. Isto está relacionado à produção de oxitocina, um hormônio que contribui para o fortalecimento de todos os tipos de laços (inclusive de mãe e filho durante a amamentação). A oxitocina ajuda a regular os comportamentos sociais e emocionais e é fundamental para o bem-estar. Ela também modula as respostas ao medo, ansiedade e estresse; sendo produzida especialmente em momentos íntimos como abraços, carícias e beijos. O que mostra a importância de que o sexo não se limite à genitalidade, mas contemple outras formas de interação mais sutis. Embora o orgasmo seja o ponto alto da resposta sexual, as relações íntimas não devem orbitar em torno dele ou serem entendidas como incompletas caso ele não seja alcançado. Em resumo, o sexo traz benefícios diversos. A prioridade deve ser sempre que se ajuste às necessidades das pessoas envolvidas, de modo a proporcionar momentos agradáveis e descontraídos. Exercer pressão sobre a intensidade ou frequência é muitas vezes contraproducente. Conhecer e respeitar as nossas necessidades mútuas é o segredo.

Joaquín Mateu Mollá é Professor Doutor em Psicologia Clínica pela Universidade Internacional de Valência, na Espanha.

Violência sexual contra homens e meninos

Outros Assuntos/ Psicologia e Psicossomática

Homens e meninos também sofrem abuso sexual. Eles estão aprendendo a pedir ajuda

Instituição de acolhimento aponta que vítimas de violência sexual do sexo masculino só revelam trauma entre 20 e 30 anos após abusos sofridos na infância ou adolescência

Por Briller Pieres, Jornal El Pais, 23 MAR 2021

O silêncio dos homens foi a cápsula que o aprisionou em sua própria história, mas, por outro lado, ainda que depois de muito tempo, o ajudou a encontrar um sentido para ressignificar a experiência traumática da juventude. “Achava que eu era o único homem que tinha sido vítima de violência sexual. Só procurei ajuda com 30 e poucos anos”, conta Ângelo Fernandes, fundador da Quebrar o Silêncio, uma associação de acolhimento a adolescentes e adultos do sexo masculino que sofreram abusos sexuais. Em quatro anos de atuação, a entidade sediada em Portugal já recebeu quase 400 pedidos de ajuda de vítimas com percurso semelhante ao de seu presidente.

Ângelo tinha 10 anos quando foi molestado durante vários meses por uma pessoa próxima da família. Guardou o trauma em segredo até ir morar em Manchester, na Inglaterra, onde conheceu a Survivors Manchester, grupo que presta suporte psicológico a homens impactados pela violência sexual. “Levei tempo demais para assimilar o que aconteceu comigo. Mas fiquei pensando: ‘E se eu ainda estivesse em Lisboa? A quem recorreria?’. Então, decidi voltar e criar uma associação em Portugal”, conta. Assim como sua homóloga inglesa, a Quebrar o Silêncio oferece apoio a vítimas e familiares, além de trabalhar com a prevenção de abusos e a sensibilização para a derrubada de mitos que inviabilizam denúncias.

O principal deles é desconstruir a homofobia em torno da masculinidade. “Homens sentem muita vergonha e até sentimento de culpa em relação ao abuso sexual”, diz Ângelo. “Algo agravado por estereótipos de gênero, como as lendas de que homem que é homem não pode procurar apoio, tem de resolver seus problemas sozinhos. Muitos dos que nos procuram são heterossexuais”, comenta. “Eles têm medo de que o abuso seja associado com sua orientação sexual. Depois, em meio ao processo terapêutico, percebem que uma coisa não tem nada a ver com a outra.”

No Brasil, casos de repercussão midiática têm sido expostos a conta-gotas. Em abril do ano passado, o humorista Marcelo Adnet, 39, revelou que havia sido abusado duas vezes na infância. Na primeira, aos 7 anos, por um caseiro do sítio onde passava férias. Depois, aos 11, por um amigo mais velho de sua família. “Foram mais de 25 anos para pensar em tocar nesse assunto publicamente. São várias camadas de dor para lidar”, lembrou Adnet em entrevista ao canal GNT. “Como eu não tive culpa, é uma cicatriz na minha vida, mas hoje não tenho vergonha de falar sobre algo em que eu fui a vítima. Temos de normalizar e encorajar a denúncia. Ser abusado não é crime.” A única instituição de acolhimento específica para homens vítimas de abusos sexuais no país é a Memórias Masculinas, que inaugurou serviço de atendimento psicológico em janeiro.

Segundo o último relatório anual —referente a 2019— do Disque 100, canal de denúncias mantido pelo Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, somente 18% dos registros de violência sexual contra crianças e adolescentes brasileiros referiam-se a vítimas do sexo masculino. A subnotificação de abusos contra meninos se torna ainda maior na adolescência. Enquanto 46% dos casos atinge vítimas do sexo feminino entre 12 e 17 anos, a proporção de garotos da mesma faixa etária que denunciam é de apenas 9%. “Por causa de nossa cultura patriarcal e machista, há uma estigmatização de garotos que sofrem abuso sexual”, diz Flávio Debique, gerente de proteção infantil e incidência política da ONG Plan International Brasil, que atua na prevenção de violências contra crianças. “É como se o abuso retirasse a masculinidade do menino. Com receio de o filho ser visto como homossexual, a família prefere não denunciar.”

Após revelar sua história, Adnet recebeu a ligação de um amigo, contando ter sido vítima de abusos parecidos, e foi alvo de ataques nas redes sociais que debochavam de sua sexualidade. “Quando o menino é abusado, tem gente que diz: ‘Ah, você é baitola, tomou porque gostou’. Eu ouvi muito isso. Existe o medo da ridicularização, das ofensas homofóbicas. [Abusadores] ainda usam essa rasteira como forma de constranger a vítima”, lembrou o humorista. “O agressor fica protegido, no fim das contas. Procurei estabelecer um limite aos ataques nas redes sociais, em respeito a outras pessoas que também sofreram abuso.”

De acordo com um levantamento produzido pela Quebrar o Silêncio, casos como o de Adnet se encaixam na média de idade em que adultos do sexo masculino decidem buscar amparo psicológico para tratar dos traumas na juventude. “A maioria dos homens que nos procura sofreu abusos entre 20 e 30 anos atrás”, afirma Ângelo Fernandes. “Violência sexual na infância é uma experiência profundamente traumática para a criança. Ela pode passar a vida esperando que outras pessoas façam o mesmo. Contudo, não é uma fatura vitalícia”, adverte.

Segundo ele, com intervenção especializada, é possível minimizar os sintomas e oferecer ferramentas para a vítima lidar com o trauma. Já outro estudo da associação portuguesa estima que um em cada seis homens foi vítima de algum tipo de abuso ou assédio sexual antes dos 18 anos.

Campanhas educativas e acolhimento para vítimas

Um dos episódios mais marcantes da Survivors Manchester, inspiradora da Quebrar o Silêncio, foi a atuação no escândalo de abusos sexuais no futebol inglês. A entidade não só acolheu centenas de vítimas de uma rede de treinadores pedófilos, como também ajudou a fechar um acordo milionário com o Manchester City, que se comprometeu a pagar indenizações aos homens que foram abusados por antigos profissionais do clube. Denúncias vieram à tona em 2016, depois que o ex-lateral Andy Woodward descreveu ao The Guardian os abusos cometidos por seu ex-técnico, Barry Bennell, condenado a mais de 30 anos de prisão por molestar 52 atletas com menos de 13 anos.

“O abuso sexual de meninos é muito comum, ainda mais no futebol”, contou Woodward ao EL PAÍS. “Existem diferentes razões para que um menino ou uma menina não revele o que sofreu. É difícil para todos. Mas, no caso dos garotos, há um enorme tabu. As crianças do sexo masculino têm mais dificuldade de falar sobre isso. Muitos pensam: ‘Ninguém vai me ouvir porque eu sou um menino, devo me comportar como homem. E isso é vergonhoso para mim’. Foi algo que eu senti. O abusador exerce poder e controle. Seu impacto na vida de uma criança é aterrador.”

Devido à dor digerida em silêncio, Woodward disse ter tentado se suicidar várias vezes, uma consequência extrema, porém, não tão rara para vítimas de abusos. Em 2017, nos Estados Unidos, a morte do ex-jogador de hóquei David Gove por overdose de heroína destapou o segredo que ele guardava por mais de duas décadas. Gove foi molestado ao longo de três anos por seu primeiro treinador, Robert Richardson. Contou à mãe sobre os abusos aos 12, mas preferiram não denunciar o técnico por medo de brecar a ascensão da carreira. Em 2005, Richardson recebeu acusação por abusar de outro garoto. Acabou absolvido no processo, o que fez com que Gove entrasse em depressão.

Assim que encerrou a carreira no hóquei, ele registrou queixa contra Richardson e chegou a prestar depoimento à Justiça em 2014. Porém, o processo foi encerrado após sua morte. Richardson jamais falou sobre as denúncias, mas sua defesa alegou nos tribunais que ele é inocente. A história do ex-jogador se assemelha à de Chester Bennington, vocalista da banda Linkin Park, que, três meses depois da overdose que vitimou Gove, foi encontrado morto em sua casa no sul da Califórnia. Ele se suicidou após longos anos lutando contra o alcoolismo e a dependência química. O gatilho para o uso de drogas, como relatou em entrevistas antes de morrer, foram os abusos que sofrera aos sete anos de um amigo mais velho.

Não bastassem os entraves culturais que perpetuam o silenciamento, a quebra do tabu em torno do abuso sexual contra vítimas do sexo masculino ainda esbarra em limitações institucionais. Até 2009, por exemplo, a legislação brasileira não considerava homens como vítimas de estupro. Antes da alteração no Código Penal, que reformou o artigo 213 de “constranger mulher” para “constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a ter conjunção carnal ou a praticar ou permitir que com ele se pratique outro ato libidinoso”, o estupro de homens era enquadrado como atentado violento ao pudor, com penas menores.

Em que pese a mudança na lei, a ideia de que apenas mulheres são vítimas de abuso sexual ainda está enraizada até mesmo nos órgãos públicos. Em 2018, o Ministério do Esporte, em parceria com a Secretaria Nacional de Políticas para Mulheres (SPM), lançou uma campanha de combate à violência sexual contra as atletas, sem nenhuma menção a esportistas do sexo masculino. “O programa tem como finalidade chamar a atenção da sociedade para o assédio e a violência contra as mulheres”, afirmou no lançamento do programa o então ministro do Esporte, Leonardo Picciani. No ano anterior, uma reportagem do EL PAÍS havia registrado que pelo menos 48 garotos denunciaram assédios e abusos em escolinhas e clubes de futebol.

A falta de centros de acolhimento específicos para vítimas do sexo masculino também contribui para desencorajar denúncias. No Brasil, ocorrências de abuso e estupro geralmente são direcionadas a delegacias especializadas da mulher ou de proteção à criança e ao adolescente. Alguns Estados como o Distrito Federal têm apostado nos Centros de Especialidade para Atenção às Pessoas em Situação de Violência Sexual, Familiar e Doméstica (Cepavs). No entanto, sem estabelecer o foco no público masculino. “Uma rede acolhimento com distinção para mulheres pode afastar alguns homens. É necessário identificar esses centros como locais de apoio à vítima. Mas, além de reformular o atendimento, é preciso haver uma grande campanha educativa. Se a informação não chegar aos homens, eles nunca saberão a quem recorrer”, explica Ângelo Fernandes.

Em Portugal, a Quebrar o Silêncio conta com subsídio do Governo para prestar serviço gratuito a dezenas de vítimas e ainda colabora com associações de outros países, incluindo a Memórias Masculinas. O primeiro passo, insiste Ângelo, é atacar a cultura do silêncio. “Parece simples, mas temos de repetir o básico até que a sociedade entenda de uma vez por todas que homens e meninos também são vítimas de abuso sexual. Eles precisam saber que podem pedir ajuda.”

https://brasil.elpais.com/brasil/2021-03-23/homens-e-meninos-tambem-sofrem-abuso-sexual-eles-estao-aprendendo-a-pedir-ajuda.html

NOTA DO EDITOR: Veja o livro A MAE QUE NÃO SABIA AMAR, sobre o tema de abusos sexuais na infância

Desvio sexual. O que é?

Psicologia e Psicossomática

Por José Joacir dos Santos, psicanalista e psicoterapeuta

A sexualidade é o maior poder criativo do ser humano. Junta o instinto com a consciência. Promove o bem-estar físico, mental, emocional e espiritual. Os desvios sexuais ocorrem quando o indivíduo é reprimido em suas expressões físicas, mentais, emocionais e tem a espiritualidade como forma repressora dos seus instintos e de sua consciência. O que é desvio sexual? É o uso indevido da sexualidade: abuso, estupro, violência. E o que é uso indevido? É o uso da energia sexual para a maldade, a violência, a magia negra, a obsessão, que nada tem a ver com gênero. No Brasil, as igrejas castradoras distorcem o assunto, tentando convencer seus seguidores a direcionar a inteligência sexual contra si mesmo. E tem sucesso quando o indivíduo se deixa escravizar pelas suas ideologias que só favorecem aos que estão no poder. Após a eleição de 2018, a nação brasileira testemunhou a tentativa do governo federal em intimidar e interferir na educação sexual das pessoas.

As genitálias humanas não pensam, não têm sentimento e não diferenciam os gêneros. Estão a serviço do impulso emocional, do sentimento, da intenção mental. Não são bombas que podem explodir a qualquer momento, sem controle. Agem pelo comando mental, seja amoroso ou destrutivo. São controladas pelo corpo emocional, que é totalmente vulnerável às lavagens cerebrais intencionais de grupos, religiões e crenças familiares. A expressão cultural, em forma de arte e beleza, só eclode quando o indivíduo está desimpedido emocionalmente de expressar sua sexualidade, seja qual for a forma e o gênero. A repressão da sexualidade provoca doenças físicas, mentais e emocionais porque faz parte do sistema elétrico do ser humano. Como tudo isso está ligado ao espírito, provoca também a doença do espírito, e isso já levou muita gente a hospitais psiquiátricos indevidamente. As lideranças políticas e religiosas reprimem o sexo porque sabem que sem essa energia ativa e feliz o ser humano fica totalmente rendido e fácil de ser manipulado. Aí entram as mentiras e as lavagens ideológicas.

É a família quem se coloca a serviço dos controladores do poder para reprimir seus filhos desde a mais tenra idade e assim aparecer bem para seus dominadores. Seria uma espécie de troca de favores, em detrimento da felicidade dos filhos. Quando houve a revolução comunista na Rússia e na China,  jovens eram aliciados pelos líderes políticos para dedurar seus pais — se eles transgredissem as normas do poder estabelecido. Os crimes sexuais, como a pedofilia, são o resultado da repressão do sistema de poder prevalecente em qualquer país. Um dos países onde mais estupro ocorre é a Índia, onde o cruel sistema de casta divide as pessoas por suas posses e ancestralidade. Sexo é reprimido de todas as formas e está vinculado, naquele país, ao casamento arranjado, onde as pessoas se conhecem no dia do casamento. Onde quer que haja repressão, é claramente uma decisão política. Quando eu morei na Índia e vi, longe de qualquer influência, a estrutura das castas, cuidadosamente mantida pelos políticos, seitas e religiões, inclusive o comércio do casamento arranjado, passei a questionar qualquer técnica indiana atual de iluminação. Como você pode se iluminar com o sofrimento coletivo?

Os líderes e sistemas políticos dão carta branca para aqueles que esperam todas as possibilidades de usar o poder para o auto favorecimento, nem que isso seja a criminalidade. Quanto mais educada e livre for a sociedade, menor será o nível de criminalidade. Quando mais felizes as pessoas forem para expressar sua sexualidade, mais progresso, paz, respeito e tranquilidade a sociedade vai desfrutar. Onde há crimes sexuais, como o estupro, é sinal de alarme das mazelas das lideranças políticas. Nos séculos passados, enquanto a igreja católica reprimia a sexualidade e interferia na vida íntima das pessoas, inclusive no Brasil, propiciou o aparecimento do desrespeito, da intolerância e dos crimes sexuais dentro da própria igreja. Para sofisticar esse sofrimento, a igreja apontou o dedo e demonizou a homossexualidade para esconder suas próprias masmorras. O pano de fundo da escravidão era o comércio sexual das pessoas.

A igreja católica criminalizou a homossexualidade para poder doutrinar as consciências e tomar o poder, não só nos domínios de Roma, mas em países onde a sexualidade era livre e harmônica por séculos seguidos, como na Grécia e Índia. A rainha Vitória, da Inglaterra, teve filhos com muitos homens, até com seguranças escravizados e mesmo assim reprimiu as manifestações da sexualidade, tradicionalmente milenares na Índia. A história de Roma e dos romanos, tem altos e baixos dos dois lados do uso da energia sexual: o positivo e o negativo. No positivo, a tradição cultural daquela parte da Itália era muito parecida com a de países vizinhos com a Grécia, onde a iniciação sexual era sempre entre homens. Eles se casavam com mulheres, mas podiam manter seus amantes, dentro de casa. No continente hindu, onde hoje está a Índia, essa cultura também existia.

Com a ascensão do cristianismo, os imperadores romanos publicaram leis segundo as quais o cidadão romano poderia fazer sexo com outro homem, desde que não fosse um cidadão romano. Os senadores não respeitavam muito aquelas normas. Eles adoravam escolher os melhores gladiadores para a festa  na cama, mesmo aqueles casados. Os soldados romanos, ocupados com a manutenção da ocupação militar do império em várias partes do mundo, também ignoravam aquelas normas. Muitos deles preferiam manter escravos sexuais entre os prisioneiros de guerra, todos homens. Paulo, o apóstolo conhecia muito bem  o comércio sexual dos soldados romanos. Ironicamente, ele foi um dos responsáveis pela criminalização da homossexualidade na igreja de Roma. Na Itália como um todo e na Roma política, antes, durante e depois do cristianismo, o sexo sempre foi a moeda de troca, até entre famílias nobres. Soldados romanos traziam escravas sexuais de todas as províncias dominadas, escolhidos entre os militares derrotados. O cristianismo se aproveitou dos inúmeros assassinatos entre famílias, contra imperadores e gente da realeza para implantar suas idéias de culpa e pecado. Nos dias atuais, no Brasil, as igrejas cristãs quase vazias, quem tomou o controle da repressão foram os evangélicos, embora já tenham feito isso em muitos outros países, inclusive sobre o patrocínio de reis desequilibrados como Henrique VIII, da Inglaterra.

A demonstração de poder, seja qual for, é uma tentativa do indivíduo de desviar a atenção dos seus conflitos sexuais internos. É isso que ocorre com o indivíduo homofóbico. Ele agride, escolhe suas vítimas entre os mais medrosos e fragilizados para torturar e assim parecer que é superior em todos os sentidos da vida, quando, na verdade, está escondendo as suas inquietudes mais obscuras. Por trás de todo homofóbico há um desequilibrado sexual que tenta se esconder. É também uma forma de atingir o domínio sobre os indivíduos vinculados. Quem empodera o homofóbico, o racista, o criminoso, é quem está no poder político.

Quando a religião usa deus para reprimir a energia sexual é porque é destituída de qualquer argumento espiritual de qualidade e boa procedência. Perdeu a noção do que é sagrado. Conhece as fragilidades humanas e sabe que a sexualidade é um alvo fácil e incontestável. Conhece o teor e o medo a deus que implantou ao longo dos séculos. Sabe muito bem usar as lavagens cerebrais que priorizam o temor a deus. Sabe que o instinto sexual que o universo acoplou ao sistema físico humano é um caminho libertador que está acima da necessidade de reprodução e procriação.

Ao venderem a falsa afirmação de que são representantes de deus na terra, os líderes religiosos se apoderam da fragilidade e do medo em nome de deus, incorporado na humanidade pelo sofrimento em busca da sobrevivência. Quando algo sai errado, o indivíduo imediatamente culpa a deus, especialmente se for uma pessoa carente e fragilizada emocionalmente. Essa é uma estratégia de guerra: quando o inimigo se mostra fragilizado, com medo, temeroso, é hora de atacar para vencer a batalha. Assim, a religião ameaça com deus para reprimir e manter o fiel debaixo de suas inúmeras formas de poder, fazendo o indivíduo acreditar que é o poder de deus que o castiga e esse deus é cruel, implacável, incapaz de perdoar um só item da lista de pecado das igrejas.

Na Alemanha nazista houve momentos em que os soldados agiam por sua própria conta, empoderados pelo ódio e pelos discursos de seus líderes, fazendo suas próprias traduções do que achavam que tinham compreendido e isso resultou em milhares de assassinatos. No Brasil do presidente Bolsonaro acontece algo parecido. Empoderados pelos discursos inflamados do presidente, indivíduos desequilibrados, mal-intencionados e até deturpadores do que escutaram, passaram a agir por conta própria em nome do líder. Cito em um dos meus livros um fato que ocorreu na China durante a revolução comunista. Isso ocorre e já ocorreu em muitas partes do mundo, onde o padrão e a frequência energética do líder são traduzidos pelo público pouco esclarecido ou destituído de consciência como poder coletivo. Ele faz e eu replico. Se ele pode, eu posso.

Um dos piores exemplos dessa paralização cerebral, quase que um estado de letargia, aconteceu na revolução comunista na China. Um soldado ligou para o quartel general de outra província para se queixar com o chefe que a comunidade em que estava se recusava a se converter ao comunismo. Irritado, o líder do outro lado da linha disse: mate todos e faça uma sopa. O soldado não só ordenou a morte de todas as pessoas daquela comunidade como fez seus subordinados catar todas as panelas grandes e fazer sopa dos corpos. Havia, também, na região escassez de comida. E o soldado ainda teve a capacidade de registrar tudo no livro de campanha de sua guarnição militar.

A energia sexual foi acoplada no corpo físico do ser humano para facilitar o processo de criatividade e sobrevivência. Quando o ser humano se desequilibra, passa a agredir a si mesmo ou a quem estiver ao seu redor. Quando isso acontece, o indivíduo está literalmente utilizando o potencial dessa energia do lado negativo.  E isso pode ser muito destruidor porque a energia sexual não faz julgamento do seu uso. É como um carro que vai para onde o motorista decidir. Por isso, a tentativa de vincular a sexualidade a deus e criminalizar o gênero, pelo pecado ou pela aparência física, é um triunfo da ignorância. O maior mestre de todos os tempos, Jesus, jamais mencionou a sexualidade e nem discriminou ninguém com base nas genitálias.

A herança cultural de vinculação das genitálias a deus está camuflada na necessidade dos antigos líderes de procriar para ter homens fortes para a guerra e com isso garantir o poder. Enquanto a encenação do ódio e do castigo é mantida nos templos, os jornais brasileiros e do mundo mostram escândalos dentro das seitas e religiões com lavagem de dinheiro, corrupção, venda mentirosa da salvação e até envolvimento com o tráfico de drogas e armas. Tomara que um dia o povo descubra o quanto é usado em nome de deus e que deus jamais necessitou de intermediário para suas conexões.

Sempre é bom lembrar que os índios brasileiros receberam os colonizadores europeus despidos porque não havia os castigos de deus em sua cultura. 23/08/2020

Por que homens héteros fazem sexo com homens

Psicologia e Psicossomática

gayartigo

Por Miguel Ángel Bargueño (*)

Sim, você leu certo: homens que fazem sexo com outros homens e não são homossexuais. É mais habitual do que se pode imaginar. E é bem simples: um homem heterossexual conhece outro (num bar, numa rede social, tanto faz) e eles decidem fazer alguma brincadeira sexual. E, como se não bastasse, gostam. Depois, cada um segue com sua vida perfeitamente hétero, sem que o encontro os faça duvidar da sua orientação. O que leva alguns homens a essas práticas? E por que é incorreto catalogá-los como gays?

Hoje em dia, a aceitação da diversidade sexual é muito maior do que no passado. “À medida que há uma maior tolerância, todos saímos um pouquinho dos nossos armários”, argumenta o psicólogo, psicoterapeuta e sexólogo espanhol Joan Vílchez. “Homens que não chegam a se sentir muito satisfeitos sexualmente podem ter a chance de manter relações com outras mulheres, com um homem, ou de experimentar certas práticas que em outros tempos eram mais censuradas.” Para Juan Macías, psicólogo especializado em terapias sexuais e de casal, “conceitos como heteroflexível ou heterocurioso estão permitindo aos homens explorar sua sexualidade sem a necessidade de questionar sua identidade como heterossexuais”. Por outro lado, a Internet facilita o contato, que pode ser virtual ou físico.

A orientação sexual é construída socialmente, são categorias rígidas e excludentes, com implicações que afetam a identidade individual e social”

Os especialistas acham isso a coisa mais natural do mundo, pois partem da premissa de que uma coisa é a orientação sexual de um indivíduo, e outra as práticas que ele realiza. “A orientação sexual”, explica Macías, “é construída socialmente, são categorias rígidas e excludentes, com implicações que afetam a identidade individual e social”. Forçosamente, alguém precisa se encaixar em alguma destas três classificações: heterossexual, homossexual ou bissexual. Por outro lado, “a prática sexual é mais flexível e mais livre, é um conceito descritivo. Um espaço tremendamente saudável na exploração do desejo se abre quando a pessoa se liberta da identificação com uma orientação sexual”, diz Macías.

Isso é tão natural que vem de longe. Na Roma antiga, não era raro que um homem comprometido com uma mulher mantivesse um amante. Por não falar do que acontecia nos bacanais. E jovens de todas as épocas recorreram a passatempos com uma conotação sexual difusa. “Na adolescência é bastante comum que haja jogos de certa forma associados aos genitais: ver quem urina mais longe, ver quem tem o maior, existem toques…”, diz Vílchez. “Não deixam de ser incursões homossexuais, mas ainda prepondera o modelo heterossexual, e acontecem a partir da transgressão própria da juventude”, observa o psicólogo.

Um novo modelo: SMSM

Em 2006, um estudo sobre a discordância entre comportamento sexual e identidade sexual realizado por pesquisadores da Universidade de Nova York revelou que 131 homens, de um total de 2.898 entrevistados, admitiram ter relações com homens apesar de se definirem como heterossexuais. Pelos cálculos dos especialistas, esse grupo representa 3,5% da população. Há anos, os médicos empregam a sigla HSH para se referir ao conjunto dos homens (héteros ou gays) que fazem sexo com outros homens. Mas, recentemente, aflorou outro acrônimo mais preciso para definir esse grupo: SMSM (“straight men who have sex with other men”, ou homens heterossexuais que fazem sexo com outros homens). Sites como o Straightguise.com se dedicam ao tema.

Em julho, saiu os EUA o livro Not Gay: Sex Between White Straight Men (“Não gay: sexo entre homens brancos heterossexuais”), em que a professora Jane Ward, da Universidade da Califórnia, fazia a seguinte colocação: uma garota hétero pode beijar outra garota, pode gostar disso, e mesmo assim continua sendo considerada hétero; seu namorado pode inclusive estimulá-la a isso. Mas e os rapazes? Eles podem experimentar essa fluidez sexual? Ou beijar outro garoto significa que são gays? A autora acredita que estamos diante de um novo modelo de heterossexualidade que não se define como o oposto ou a ausência da homossexualidade. “A educação dos homens tem sido bastante homofóbica. Fizeram-nos acreditar que é antinatural ter esses impulsos por outros homens”, explica Vílchez.

Experimentando, experimentando

O perfil mais estendido é o do explorador sexual: aquele a quem gosta de provar coisas novas

As motivações, logicamente, são múltiplas. O perfil mais difundido é o do explorador sexual, que gosta de provar coisas novas. “Experimentar uma relação homossexual é uma novidade para ele e, mesmo que ele goste, não podemos dizer que seja homossexual, e sim que goste dessa prática”, diz o médico de família e sexólogo Pedro Villegas. Vílchez compartilha dessa ideia. “A bissexualidade está muito na moda, e na verdade somos todos bissexuais: se você fechar os olhos, dificilmente conseguiria identificar quem está lhe acariciando, se é um homem ou uma mulher. Não há um homem que seja 100% homossexual, nem 100% heterossexual”, sentencia.

Outra das causas é um desencanto com as mulheres, frequente depois de alguns rompimentos conjugais. Vílchez explica: “Quando um casal heterossexual está em crise, é habitual que alguns homens sintam que não se entendem com as mulheres, que são incapazes de se dar bem com elas, e é como se olhassem para o outro lado. Acontece uma espécie de regressão, volta-se a um estágio anterior no qual os homens se sentiam bem juntos, como na adolescência. Em muitos casos é uma necessidade mais afetiva do que realmente sexual”.

De fato, para esse especialista, essas relações eróticas às vezes escondem uma necessidade de afeto que o homem não está acostumado a expressar. “Nos homens há muita tendência à genitalização. Entre a cabeça e os genitais há o coração, que representa os sentimentos, e os intestinos, que simbolizam os comportamentos mais viscerais e as emoções mais intensas, e é como se os homens tivessem aprendido a fazer um desvio: passamos da cabeça diretamente para os genitais, sem viver plenamente as emoções. No caso das mulheres, por tanta repressão da sua sexualidade e por medo da gravidez, acontece o contrário: elas têm muita dificuldade de genitalizar. Para um homem às vezes é mais fácil fazer isso do que expressar emoções mais sutis ou dizer a outro homem: ‘É que me sinto inseguro, tenho medo, sinto-me frágil, não sei o que quero’.”

O impulso narcisista

Entre os homens héteros que vão para a cama com outros homens também há muitos narcisistas. “É aquele sujeito que gosta que prestem atenção nele. Acontece muito nas academias de ginástica: ele gosta de despertar admiração, e não se importa se isso provém de homens ou mulheres”, aponta Eugenio López, também psicólogo e sexólogo. Outros simplesmente têm vontade de transar e recorrem a inferninhos gays, porque acham que lá será mais fácil.

Há homens heterossexuais que se envolvem com homens porque gostam; outros, por falta de alternativas – pensemos nos que são privados do contato com mulheres por períodos prolongados (será que eram mesmo gays os caubóis de O Segredo de Brokeback Mountain?). “O ser humano se rege por seus pensamentos”, argumenta López. “E, se ele acreditar que está perdendo sua sexualidade pela falta de uma mulher, pode reafirmá-la com outro homem. Costuma começar com um simples roçar.”

Se não houver conflito, não há problema

Alguns desses neo-heterossexuais podem ter sentido impulsos desse tipo no passado, mas sem se atreverem a dar o passo. “Aí vêm as circunstâncias da vida que colocam isso de bandeja e eles decidem viver a experiência, mas isso gera um conflito para eles, porque por um lado lhes proporciona prazer, mas por outro ameaça um pouco seu status e sua imagem: ‘Sou ou não sou?’, perguntam-se”, comenta Vílchez. Também podem ficar confusos aqueles que chegam ao SMSM pela carência de uma figura paterna positiva na sua infância: “Às vezes, para reforçar sua masculinidade, integram-se a atividades ‘de homens’ (futebol, musculação) ou têm contatos sexuais com outros homens, mas o que procuram é sobretudo compreensão e carinho”, acrescenta. Os psicólogos são unânimes em dizer que sua intervenção é dispensável quando essas experiências não provocam um conflito no indivíduo. “Se não estão incomodados, não há nada para tratar”, conclui Villegas. (*) Publicado no jornal espanhol El País, de 28 de agosto de 2015

Casais vivem juntos mas não fazem sexo

Outros Assuntos

Por Rita Abundancia (*)

Os casais que vivem juntos, se dão bem, aparentemente não têm grandes problemas, mas estacionaram sua vida sexual – não se sabe muito bem por quê –, são cada dia mais numerosos. Segundo pesquisas de Robert Epstein, famoso psicólogo de San Diego e fundador e diretor do Centro Cambridge de Estudos do Comportamento em Beverly, Massachussetts, entre 10 e 20% dos casais nos Estados Unidos não fazem sexo, o que equivaleria a 40 milhões de pessoas. Acredita-se, além disso, que o número pode ser muito maior na realidade, já que muitos indivíduos se recusam a falar de sua vida sexual e muito menos reconhecem que carecem dela quando têm um parceiro. Para Epstein, um casal sem sexo é aquele que mantém menos de uma relação por mês ou menos de 10 por ano.

Mas a verdade é que, após vários anos de convivência, não é difícil engrossar a lista de casais assexuados, ainda que exista bom relacionamento, comunicação e até intimidade. O sexo é a primeira coisa que se deixa para depois quando a lista de afazeres é longa e extensa. Em parte porque ainda continuamos com a ideia de que a paixão e o entusiasmo são qualidades incluídas no pacote “duas pessoas que se amam e vão morar juntas”. Mesmo que venham, o que acontece é que as baterias descarregam. Ante essa nova situação, muitos pensam que a vida é assim mesmo e que, inevitavelmente, tudo chega ao fim – não lhes ocorre pensar em baterias de reposição. Como se dão bem, gostam do mesmo tipo de filme e ainda têm muitos anos de hipoteca, iniciam um período de hibernação interrompido pelas férias de verão, quando podem ter algumas relações só para se dar conta de que é quase melhor não tê-las.

Podem continuar assim o resto de seus dias ou pode acontecer de alguém cruzar o caminho de um dos dois, fazendo com que descubra o sexo pela segunda vez, ou talvez pela primeira, e ponha fim a uma relação que é mais de companheiros de apartamento, que de cama. Foi o que aconteceu com Lorena, 39 anos, depois de seis anos sem vida sexual. “Quando o sexo começou a deixar de ser frequente eu tentei perguntar a meu ex o que estava acontecendo. Eu ainda tinha desejo, mas ele dava desculpas quase sempre, até que chegou um momento em que eu também entrei nessa dinâmica. É como quando você quer algo que não consegue, então deixa de pensar naquilo para não se aborrecer. Assim eu me convenci de que estava tudo normal, porque acontecia o mesmo com minhas amigas. O sexo também não é nada de mais, dizíamos, e até fazíamos piadas sobre o fato de que quando estávamos solteiras ‘molhávamos’ mais. Quem me tirou dessa letargia foi alguém que conheci em uma festa e que é meu companheiro atual. Mas lembro do rompimento como um algo muito doloroso. Nós nos dávamos muito bem, falávamos de tudo e eu fiquei um pouco como a ninfomaníaca insaciável que abandona o homem de sua vida por uma transa”.

As consequências

Perder o fator sexo em dado momento é normal em toda relação, o que não é tão normal é enterrá-lo sem motivo aparente. Segundo Francisca Molero, sexóloga, ginecologista e diretora do Institut Clinic de Sexologia de Barcelona, isso pode ter origem em problemas fisiológicos, ainda que esse não seja o motivo na maioria das vezes. “É o caso das mulheres que começam a pensar que já não são atraentes e, por isso, seus companheiros não as procuram mais, ou o de muitos homens nos quais a recusa de relações sexuais por parte de suas mulheres começa a provocar insegurança e ansiedade, o que acaba afetando a resposta sexual e pode, finalmente, provocar ejaculação precoce ou outros transtornos. O cognitivo bloqueia ou controla o instinto. Infelizmente, a falta de interesse no sexo nem sempre afeta de igual maneira os dois membros do casal. O mais comum é que um continue querendo ter relações e o outro não, o que também é fonte de frustração, culpas, brigas, raiva contida. Tudo isso, cedo ou tarde, acabará minando a relação”, comenta a sexóloga.

Recentes estudos científicos indicam que as mulheres são as primeiras a perder interesse após anos com o mesmo companheiro e que a síndrome do desejo hipoativo, ou seja, a falta de vontade, poderia ser nada mais nada menos que tédio, como expunha um artigo publicado no Huffington Post intitulado Seria a monogamia a causa de disfunção sexual feminina e uma pílula, a solução? A maioria dos homens, por outro lado, depois de um tempo de convivência, começam a cansar-se de sempre ter de tomar a iniciativa no terreno erótico, do mito de que estão sempre dispostos e da crença de que o gênero feminino é o que mais necessita que lhe dourem a pílula. Raúl e sua companheira tinham consciência de que as baterias deveriam ser trocadas de vez em quando, mas ele é que ficou incumbido da manutenção. “A verdade é que nosso lado sexual tinha piorado, perdido qualidade, e imagino que foi isso que nos fez começar a esquecê-lo”, conta Raúl, “então decidimos reativá-lo. Mas nessa reforma começaram a surgir muitas recriminações, frustrações, desejos não realizados. Fui retratado como o principal responsável por não haver mais tantas preliminares nem paixão, por deixar de demonstrar carinho (beijos, beliscões e até tapinhas espontâneos), por não querer quando ela queria. Será que os homens não gostamos de ser seduzidos, que se insinuem para nós e que tomem a iniciativa de vez em quando?”.

Pessoalmente acredito que o sexo em um casal cumpre o papel do inconsciente e que, em geral, é o primeiro a detectar e somatizar os problemas que o intelecto demorará anos para entender. Portanto a expressão: “Estamos muito bem mas não temos vida sexual” se traduz em: “Na realidade, não estamos tão bem, por isso não vamos para a cama”. Como aponta Francisca Molero, “muitos problemas sexuais ou falta de desejo, são apenas o reflexo de outros outras questões do casal, como falta de confiança, de comunicação, interesses diferentes, inexistência de um projeto de vida em comum ou ideias contrárias. Pendências que não se manifestam e se expressam indiretamente no âmbito da sexualidade”.

Técnicas para despertar o erotismo

Casais sem sexo cada vez mais jovens chegam ao consultório dessa sexóloga e ginecologista em busca de ajuda. “Em princípio, o importante é saber se querem voltar a manter relações ou não, o que, muitas vezes, nem eles mesmos sabem. Para isso aplico uma terapia que consiste em tarefas individuais e coletivas. Entre as primeiras estão atividades para despertar o autoerotismo, o interesse pelo sexo, o que também ajudará na hora de ampliar suas habilidades eróticas e sexuais. Passada essa fase, vêm as tarefas conjuntas. Muitos casais estão tão distanciados que precisam ser reaproximados. Peço que saiam juntos, que passeiem, que se deitem na mesma hora… Diversos exercícios até poder desembocar em uma volta das relações sexuais. Às vezes se consegue. Outras já não há nexos de união e não é possível, mas o importante é que estejam conscientes do que ocorre, para então tomar ou não decisões”.

Certamente o segredo dos casais que mantêm um bom relacionamento ao longo do tempo é simplesmente continuar tendo sexo. Para concluir, recordo uma cena do filme Os Desajustados (The Misfits, 1961). Roslyn Tabor (Marilyn Monroe) é uma mulher que chega a Reno, Nevada, para divorciar-se e ali conhece dois cowboys. Em dado momento vão a casa de um deles, Guido (protagonizado por Eli Wallach). Roslyn dança com ele e descobre que é um excelente bailarino. O diálogo é um verdadeiro compêndio, triste, de filosofia das relações de casal.

Roslyn – Sua mulher não dançava?

Guido – Não como você, ela não tinha graça.

Roslyn – Por que não a ensinou a ter graça?

Guido – Isso é algo que não se aprende.

Roslyn – Como sabe? Ela morreu sem nunca saber que poderia dançar. De certa maneira vocês eram dois estranhos.

Guido – Não quero falar de minha mulher.

Roslyn – Não se zangue. O que estou querendo dizer é que, se a amava, devia tê-la ensinado. Porque todos, maridos e esposas, estamos morrendo a cada minuto e não estamos ensinando uns aos outros o que sabemos.

(*) publicado no jornal El Pais, da Espanha, em 20/11/2014

 

Medicina Oriental Vidas Passadas Terapia Reiki Terapia Floral Xamanismo Fitoterapia Musicoterapia Oriental Psicologia e Psicossomática Monografias Agenda de Cursos Outros Assuntos Contato

Joacir

Email

Copyright © 2014 - Design by Internet Hotel. Todos os Direitos Reservados.